“De agora em diante, nos céus da Europa voará a grande bandeira de liberdade das nações e paz entre as nações.” (Josef Stalin)
São palavras como essas acima que ilustram o quanto a Europa estava agoniada com uma guerra que não acabava jamais. Os 6 anos mais longos de todos os tempos estavam se findando e o velho continente, enfim, respirava aliviado.
No dia 7 de Maio de 1945 o documento preliminar da rendição foi assinado na cidade de Rheims. No dia 8 de Maio de 1945 os representantes da Alemanha, na presença do Alto Comando das Forças Aliadas e do Alto Comando das Forças Armadas Soviéticas, assinaram em Berlim a ata final de rendição, que entrou em vigor a partir da meia-noite do mesmo dia.
Depois da assinatura, o general Jodl (centro), levantou-se, pediu permissão para falar e em alemão disse: “Com esta assinatura o povo Alemão e as forças armadas alemãs entregam-se, para bem ou para mau, em mãos dos vencedores. Nesta guerra que durou mais de cinco anos, o povo e as forças armadas foram capazes de realizar gestos memoráveis, sofrendo talvez mais que qualquer outro povo no mundo. Nesta hora só posso expressar a esperança de que os vencedores lhes tratem com espírito generoso”.
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A intenção dos libertadores era tornar o dia 9 de Maio de 1945 o Dia da Vitória na Europa, porém a notícia, de alguma forma, vazou, e em poucas horas, por vários pontos do Continente, jornais, folhetins e rádios anunciavam a captulação total das forças do Eixo na Europa. A notícia caiu como uma chuva depois de longo período de seca.
“O mundo quase inteiro uniu-se e combateu esses malfeitores, que agora se curvam diante de nós.” (Winston Churchill)
Para os brasileiros que lutavam na Itália o Dia da Vitória chegou mais cedo.
Com Mussolini capturado e morto pelos partigiani em 28 de Abril de 1945 e, enfim, o suicídio de Adolf Hitler no dia 31 de Abril de 1945, o Eixo Roma-Berlim desaparecia. No dia 2 de Maio de 1945 às 14 horas, as forças alemãs que resistiam na Itália se renderam ao IV Corpo de Exército, do qual fazia parte a FEB, resultado de negociações secretas, onde o General alemão Schlemmer assinou um termo de rendição no Quartel General do IV Corpo.
Declarava-se, então, 2 de Maio de 1945, O Dia da Vitória na Itália. Foi um período de ocupação em que os brasileiros saborearam diferentes manifestações do povo libertadado, até o dia da esperada notícia.
“No dia 8 de maio chegou a auspiciosa notícia: foi assinada, na Alemanha, a rendição incondicional de todas as forças alemãs. O tão esperado Dia da Vitória aconteceu. A paz voltou a imperar no Teatro de Operações da Europa” (Trecho do Livro “Quebra Canela”, 1982, p. 184, 185)
Após confirmada a libertação, os brasileiros, assim como todos os libertadores, queriam desfrutar sua glória, mas a realidade era bem diferente.
No Livro “A Casa das Laranjas” (2009) Moura e um Sargento queriam se despedir da população que libertaram, mas os camponeses não foram receptivos.
“Moura resolveu dar uma passada por Riola e despedir-se de Ida. Não teve dificuldades em desgarrar do comboio que cortava a Itália de norte a sul. Estava acompanhado de um sargento que também tinha seus motivos para voltar ao Vale do Reno. Após horas de estrada, já de noite, chegavam próximo a Porretta, onde pretendiam dormir. Avistaram, em meio ao campo, um casarão iluminado de onde vinha música. Era algo fascinante após tantos meses de blecaute, em que as noites eram tristes e o silêncio interrompido apenas por explosões.
Não foi necessário acordo. Seguiram decididos ao que parecia ser diversão garantida. Pararam o jipe, saltaram e entraram timidamente ao amplo galpão, onde corria um animado baile de camponeses. Foram logo notados e os olhares não eram receptivos. Ficaram em um canto, achando que seriam tolerados e acabariam por entrosar-se. Mas as primeiras palavras que lhes dirigiam, ainda não compreensíveis no sentido exato, eram de evidente animosidade. Às palavras seguiram-se gestos, ainda mais inequívocos, para que fossem embora. Aquelescontandini, tão gentis em outras ocasiões, os olhavam com ódio. A guerra acabara e osliberatori de ontem não eram bem-vindos, pois já faziam parte de um passado que todos queriam esquecer.
Eram homens fardados a quem muitos daqueles pais tinham vendido a honra de suas filhas em troca de rações de alimento. Não tinham lugar no retorno a uma vida digna. (Faria, 2009, p. 214-215)
Porém, após alguns dias passados do Dia da Vitória, o povo italiano, que tanto sofreu durante os anos de ocupação, passou a ver os brasileiros como seus libertadores e demonstrar-lhes algum tipo de respeito e gratidão, como nos relata o veterano da FEB, Victório Nalesso em seu Livro “Diário de um Combatente”, 2005, p. 131.
“Pois bem, terminadas as festividades da Vitória, voltamos para o nosso acampamento. Lá ficamos sabendo que no dia seguinte haveria uma missa campal promovida e coordenada por autoridades religiosas, padres católicos brasileiros e italianos. Todos os preparativos dessa grande cerimônia ficaram por conta da comunidade religiosa italiana. Lembro-me ainda que após a missa, centenas de meninos e meninas traziam buquês de flores brancas. Em ordem, as mesmas faziam entregas dessas flores aos soldados brasileiros debaixo de músicas e hinos executadas por um coral de muitas vozes.
A emoção foi tão forte, que chorei no momento em que uma menina entregou-me o buquê de flores e me abraçou.
Logo após a notícia do fim da guerra chegar aos ouvidos dos brasileiros, todos ficaram com um sentimento de que aquilo tudo poderia ser mentira, um engano ou ainda, uma piada de mal gosto, mas com os boatos crescendo, eram impossível não crer na vitória.
Dificil mesmo era fazer boa parte dos combatentes alemães desgarrados, esfarrapados, desarmados e abandonados por seus superiores acreditarem nisso, pois com a notícia, muitos não sabiam o que fazer, nem pra onde ir.
Até um coronel alemão, em dado momento ficou em dúvida sem aquilo era mesmo o fim da guerra, como nos mostra Joel Silveira em seu livro “O inverno da Guerra”, 2005, p. 170.
“Foi então que começou a cair uma chuvinha rala e fria – e também absolutamente neutra, pois molhava a todos nós, vencedores e vencidos. Imperturbavelmente, um coronel alemão, de nome Gunther Habecker, continuou como estava. Mas um sargento alemão, ao vê-lo exposto à chuva que engrossava, gritou qualquer coisa em alemão. Logo um velho soldado destacou-se do resto do batalhão, trazendo um guarda-chuva. O sargento arrancou-o das mãos do soldado, pulou para o assento de trás do pequeno carro do coronel e abriu sobre sua cabeça.
O coronel Gunther, comandante de Artilharia. repetiu um conhecido gesto, erguendo a mão que segurava a luva de couro, e o seu carro pôs-se novamente em movimento. Ao roçar nosso jipe, fez uma espécie de continência, à qual o meu motorista, um enfezado e exausto terceiro-sargento, respondeu com um sonoro palavrão em português.”
“Não havia dúvida: a guerra tinha acabado, definitivamente. Tudo indicava isso: o prosaico guarda-chuva aberto sobre a cabeça do coronel alemão, sua continência vaga (mais cumprimento do que continência) e o indisciplinado palavrão do meu sargento – não restava dúvida: tais demonstrações tão à margem da ordem castrense eram a prova definitiva, a que me faltava, de que de fato A GUERRA CHEGARA AO FIM.”
Para nós, brasileiros, o Dia da Vitória, que é lembrado por uma minoria vergonhosa da população, com notas de 30 segundos em jornais, serve para não esquecermos que um dia cerca de 25.000 homens enfrentaram toda sorte de dificuldades, como o adestramento diminuto, armamentos precários, a falta de experiência em oposição a um inimigo calejado de batalhas, um terreno adverso e severas condições climáticas.
Esses homens lutaram contra a intolerância, contra a opressão, contra o totalitarismo escravista e a discriminação racial.
Devemos a esses homens, a vitória da liberdade, da democracia e da paz, conquistada e embebida em sangue de bravos brasileiros, que defenderam nossa honra e soberania com sua coragem, seus valores e seu patriotismo.
Se você conhece um veterano combatente, olhe-o nos olhos e diga-lhe “muito obrigado”. Ele certamente saberá do que você está falando.
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