A modelo Fernanda Tavares em foto para a campanha contra os testes em animais.
Foto: Humane Society International.
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No ano passado aconteceu em São Paulo o Sustainable Cosmetics Summit Latin America. Como de costume, o evento abordou temas pertinentes à sustentabilidade em toda a cadeia produtiva da indústria cosmética. Em 2016, uma das apresentações da discussão foi sobre a apresentação do estado da arte das alternativas aos testes em animais, ministrada pelo Gerente de Campanha no Departamento de Pesquisa e Toxicologia da Humane Society International.
O assunto era de interesse da maioria dos profissionais do setor, uma vez que vem ficando cada dia mais complicado realizar testes em animais, seja por políticas internas, políticas externas ou pressão social. A verdade é que os métodos alternativos aos testes em animais deixou de ser diferencial para se tornar exigência mínima para os produtos cosméticos. Com isso, as previsões para o mercado de métodos alternativos é bastante otimista. A expectativa era de que o valor mundial do mercado de testes in vitro venha a crescer de US$ 14,15 bilhões (2016) para US$ 27,36 bilhões em 2021. Um crescimento expressivo de cerca de 14% ao ano.
O que antes era uma tendência e amedrontava pesquisadores e profissionais em todo o mundo, vem tomando corpo e desafiando diversos setores da indústria da beleza a repensarem suas práticas e noções de segurança.
Na época, o pessoal do Cosmética em Foco conseguiu uma entrevista exclusiva com o Helder sobre o que fora apresentado durante o Summit. Ele que já representou organizações de proteção dos animais na Europa durante a elaboração da Diretiva 2010/63/EU sobre testes em animais.
Confira a entrevista:
Cosmética em Foco: Como está mundialmente o uso de métodos alternativos aos testes em animais para cosméticos?
Helder Constantino |
Helder Constantino: No mundo inteiro, existem cada vez mais incentivos ao uso de métodos alternativos para testar produtos e ingredientes cosméticos – bem como outras categorias de produtos. Primeiramente, há incentivos mercadológicos: pesquisas de opinião mostram que os consumidores querem produtos mais éticos, e varias empresas adaptam suas politicas de pesquisa e desenvolvimento para responder à demanda crescente para cosméticos “Cruelty-Free” ou livres de crueldade. Existem também incentivos regulatórios e legais. Por exemplo, a União Europeia e a Índia proibiram testes de cosméticos em animais. Há também importantes incentivos científicos. Métodos de testes in-vitro reconhecidos internacionalmente pela OCDE são mais seguros e confiáveis do que o modelo animal. As agências regulatórias e as empresas estão cada vez mais cientes das limitações do modelo animal para prever efeitos adversos em humanos.
CFOCO: O Brasil já está em dia com essas tecnologias?
HC: No Brasil também existem incentivos para ampliar o uso de métodos alternativos. A Resolução Normativa 18 do 24 de Setembro de 2014 do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA), vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, tornou 17 métodos alternativos reconhecidos pela OCDE obrigatórios no país a partir de 2019. Uma Rede Nacional de Métodos Alternativos (RENAMA) foi criada em 2012 pelo MCTI para disponibilizar métodos in-vitro no Brasil. Atualmente, 26 laboratórios fazem parte da RENAMA e a importância dos métodos alternativos é reconhecida na Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação 2016 – 2019 do MCTI.
CFOCO: Como está o desenvolvimento de métodos alternativos no Brasil?
HC: O conceito de validação de métodos alternativos ainda é relativamente recente e foi desenvolvido na Europa. O primeiro centro de validação de métodos alternativos, o ECVAM (European Centre for the Validation of Alternative Methods) foi criado em 1991 pela Comissão Europeia. De ora em diante, o interesse científico para métodos alternativos cresceu e outros centros de validação foram instituídos: ICCVAM em 2000 nos Estado Unidos e JACVAM no Japão em 2005. No Brasil, o BraCVAM foi criado em 2012, o primeiro da América Latina.
O BraCVAM ainda não validou novos métodos, mas há uma clara intenção de ancorar o Brasil neste movimento científico mundial. Além disso, empresas estão investindo em métodos in-vitro. O Boticário anunciou, por exemplo, parcerias com a RENAMA para desenvolver modelos de pele artificial, e órgãos humanos num chip. Acredito que o reforço das instituições cientificas (RENAMA e BraCVAM), junto com investimentos privados e a pressão da opinião publica a favor de métodos alternativos, irão dar frutos.
CFOCO: Que outros projetos a Humane Society tem no Brasil?
HC: A Humane Society International (HSI) é a maior organização de proteção dos animais no mundo, presente em vários países. No Brasil, a HSI trabalha com três programas: a eliminação de práticas de confinamento intensivo de animais de produção, a campanha Segunda Sem Carne e a eliminação do uso de animais em testes de pesquisa e toxicologia. Acreditamos que é possível sair do modelo animal e ao mesmo tempo melhorar a ciência e a saúde pública. Apoiamos a emergência de um novo paradigma na pesquisa científica, baseado em métodos in-vitro e computacionais mais preditivos do que os testes em animais.
Obrigado Helder!
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