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quarta-feira, 17 de julho de 2019

Veja 5 cidades imaginárias do universo literário

Imagem e port por Luisa Riviera, via Portal Aprendiz


“O escritor é como uma cidade, para a qual as palavras são mil portas.”

- Walter Benjamin

Não há estradas ou mapas que levem até elas. Ainda assim, muitas cidades imaginadas na literatura parecem mais palpáveis do que as reais, domando com suas centelhas fantásticas o imaginário humano. A quantidade de detalhes geográficos, culturais e sociais de cidades como a célebre Macondo, de “Cem anos de Solidão”, tantas vezes coloca uma lupa sobre as relações do território e seus habitantes.

Para a pesquisadora Sandra Jatahy, no artigo “Cidades visíveis, cidades sensíveis, cidades imaginárias”, isso se dá porque a cidade foi, desde cedo, reduto de uma nova sensibilidade. “Ser citadino, portar um ethos urbano, pertencer a uma cidade implicou formas, sempre renovadas ao longo do tempo, de representar essa cidade, fosse pela palavra, escrita ou falada (…) Às cidades reais, concretas, visuais, tácteis, consumidas e usadas no dia-a-dia, corresponderam outras tantas cidades imaginárias, a mostrar que o urbano é bem a obra máxima do homem, obra que ele não cessa de reconstruir, pelo pensamento e pela ação”.

Conheça 5 cidades imaginárias da literatura contemporânea – localidades que ajudam a formular novos jeitos de ler o mundo.

Macondo

Cem anos de solidão (1967) – Gabriel García Márquez

Pássaros que morrem por conta do calor dentro das casas; borboletas amarelas que acompanham amantes trêmulos dentro da banheira; insônias que tornam fosforescentes os olhos e levam uma população inteira ao esquecimento. Macondo, que apareceu em algumas obras do escritor colombiano Gabriel García Márquez e se tornou célebre em Cem Anos de Solidão, representa em seu nascimento atabalhoado – fruto de uma expedição que procurava o mar e nunca o achou – e no enlace do território com o clã Buendía muito da história latino-americana.

Karhide e Orgoreyn

A Mão Esquerda da Escuridão (1979) - Ursula K. Le Guin

A geografia citadina do pouco habitado planeta Gethen, lar do universo distópico criado pela escritora norte-americana Ursula K. Le Guin, molda duramente seus habitantes. O planeta, também chamado de Inverno, vive em uma era glacial e embora isso se sinta menos nas cidades de Karhide e Orgoreyn, quase todo o resto do relevo é castigado por impiedosas paredes de gelo. Mas o traço mais agudo dessas capitais e de todo o planeta é que todos seres contêm em si ambos os sexos, o que torna as relações de gênero mais igualitárias e modifica profundamente as estruturas políticas e sociais.

Ilustração da geografia do planeta Gethen. Crédito: Milan Dubnicky, 2009. 
Via Portal do Aprendiz Bauci

Cidades Invisíveis (1972) – Italo Calvino

Como todas as cidades imaginárias do supracitado romance de Italo Calvino, Bauci combina uma humanidade gritante com a arquitetura surrealista. Sustentada em longas pernas de flamingo em cima de uma mata selvagem, a cidade de Bauci nunca toca a terra. Os humanos que vivem em sua suspensa e diáfana estrutura a observam de longe e, para isso, o narrador Marco Polo tem três hipóteses: que pela terra sentem repulsa; que a respeitam; ou que a amam profundamente, observando-a enamorados de binóculos “folha por folha, formiga por formiga”.
Cidade Dourada

Pantera Negra e outros HQ do universo Marvel (1966) - Stan Lee

A maior cidade de Wakanda, país escondido entre montanhas da África Oriental, é o cintilante e tecnológico centro da trama do herói Pantera Negra. Exuberante em seu desenvolvimento científico, a capital ainda mantém tradições politeístas, evocando referências da mitologia egípcia e da cultura iorubá, além de ser um espaço de igualdade econômica e de gênero. Sua criação tem muitos elementos afrofuturistas, e ela pode ser considerada uma crítica à visão estereotipada dos países africanos e uma homenagem à sua riqueza cultural, tecnológica e social.
Ile-Ife

Zahrah the Windseeker (Zahrah, a Caçadora de Vento, em tradução livre) – Nnedi Okorafor-Mbachu

O universo do romance da escritora norte-americana e de origens nigerianas Nnedi Okorafor-Mbachu é habitado por árvores falantes, panteras telepáticas e uma tecnologia que brota diretamente das inteligentíssimas plantas da região. Na capital Ile-Ife, vive Zahrah, que é parte Dada, um híbrido de humanos e plantas. Enquanto o leitor acompanha o desenvolvimento da protagonista, ele é levado por uma sociedade que serve como analogia para os abismos e conexões entre humanidade e natureza.


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