Foto do Vale do Silício tirada em 1914 no topo do Monte Hamilton
Hoje:
- 39 das 1000 empresas mais valiosas dos Estados Unidos estão lá;
- Metade dos investimentos de venture capital do país estão lá;
- 1 quarto dos trabalhadores com tecnologia dos EUA estão lá;
- A região tem um dos maiores índices de patente do país;
- A média salarial daqueles que trabalham com tecnologia está lá (US$ 145 mil dólares/ano);
- A maior taxa de milionários e bilionários per capita do país está adivinha onde: lá mesmo;
- E claro, as milhares de startups que se aglutinam por lá para respirar inovação e ser o próximo Facebook ou Snapchat.
Confira a partir de agora como essa área – que não tinha nada de especial – passou a ser o local mais importante do mundo para a inovação e tecnologia.
Os antecedentes
Sem querer entrar em preciosismo histórico, a Califórnia já era habitada há milhares de anos, lógico, até ser roubada dos mexicanos e começar a viver sob domínio americano. Logo após a dominação ianque veio a Febre do Ouro, a corrida para o Oeste e a Califórnia passou por um boom populacional (1400% de crescimento em 10 anos). Pela primeira vez a costa Oeste passou a receber atenção do governo e com isso um acelerado crescimento da infraestrutura chegou à Baía de San Francisco.
Todas essas medidas de modernização tornaram o local autossuficiente, fazendo com que ele se mantivesse vivo e habitável mesmo após a dilapidação e esgotamento das minas – o que não ocorreu com a maioria das cidades mineradoras. Prova disso é que em 1891 seria fundada a univeridade de Stanford, uma das principais universidades do mundo, hoje, e fundamental, como veremos, para o surgimento do próprio Vale do Silício – região que compreende a Baía de San Francisco e arredores.
Stanford registrada em 1906 logo após o grande terremoto que acertou em cheio a Califórnia
Por sua numerosa mão de obra disponível, poços de petróleo, localização próxima ao oceano Pacífico e boa malha ferroviária e rodoviária na região, o local, desde cedo, teve a oportunidade de assumir papéis importantes na economia americana, industrializando-se e gozando de um desenvolvimento tecnológico inferior à costa Leste, mas ainda superior ao centro do país. Nada revolucionário até então, digasse de passagem, mas as bases para o Vale do Silício começaram a ser instituídas nesse momento.
A coisa começaria a mudar radicalmente após a segunda Guerra Mundial, durante a tensão da Guerra Fria. No decorrer dos anos 50 a população do Vale do Silício dobrou para 52 mil habitantes, 12 escolas foram construídas e bairros inteirinhos surgiram do nada para abrigar o batalhão de recém-formados engenheiros e professores de Stanford.
O motivo dessa nova imigração de massas foi que por ali instalou-se toda uma cadeia produtiva de material bélico de ponta que ia desde as matérias-prima e componentes elétricos básicos até o final da linha, culminando na Lockheed Missiles and Space Division (fabricante de mísseis balísticos para submarinos) e a Westinghouse (produtora de válvulas e transformadoras para os sistemas de mísseis).
Foi neste boom imigracional que o casal Paul e Clara se mudaram para Palo Alto. O seu sobrenome era Jobs, e o filho deles vocês já devem imaginar quem seja.
Assim iniciava-se um incipiente mercado tecnológico na região, com as empresas, em sua maioria, orbitando a defesa nacional. Mas ainda assim estávamos longe do surgimento daquele que mudaria tudo: O silício, afinal, o Vale não tem esse nome à toa. E para entender quando ele irá aparecer, precisamos voltar alguns anos e entender o que estava acontecendo no outro canto dos Estados Unidos, na Costa Leste, há mais de 8 mil Kms, mais precisamente em Nova Iorque.
O Transístor
Pois foi nessa cidade – mais precisamente em Manhattan – que o Bell Laboratories (tem esse nome por ser fundado por Grahan Bell, o inventor do telefone) faria história como um dos mais importantes institutos de pesquisas tecnológicas da época. Lá foram criadas, por exemplo, o circuito para computadores, a tecnologia de laser, a radioastronomia, a tecnologia para aparelhos celulares, o sistema Unix, a linguagem de programação C e C++, e, o mais importante de todos: o transistor.
Reunindo um time impressionante de gênios – 8 deles futuros vencedores do Nobel – a equipe do Bell Labs contribuiu conjuntamente para avanços que nenhum outro centro de pesquisa teria condições de propiciar. Porém, dentre todos os pesquisadores acima da média estava William Shockley, um físico teórico que assustava a todos por sua inteligência e entusiasmo.
Logo que ingressou no instituto, rapidamente, Shockley começou a trabalhar e contribuir com o campo da condutividade dos elementos. Dizem que ele podia olhar para um material e imaginar perfeitamente o modo como os elétrons moviam-se entre as camadas.
Claro que ele não trabalhava sozinho, ele trabalhava com todos. A Bell Labs foi o pioneiro em muitas coisas, inclusive, no ambiente dinâmico das empresas tecnológicas. O seu novo prédio, que seria construído, por exemplo, fora projetado com longos corredores onde as pessoas seriam obrigadas a conviver, dividir espaços e com isso conversar e trocar ideias entre si, assim como a Apple fez com seu novo prédio, só que 70 anos antes.
Grandes avanços vieram desses encontros furtuitos, principalmente de Shockley e Walter Brattain que estavam perto de acabar com a vida das antigas válvulas. Até aquela época os computadores e tudo mais eram produzidos utilizando as antigas, lentas, grandes e pesadas válvulas. Tudo feito com elas seria enorme, caro e pesado.
Porém, antes que eles contornassem os detalhes que impediam sua suas teorias de funcionar na prática, estourou a 2ª Guerra Mundial. Shockley, conhecido por seu brilhantismo, foi prontamente recrutado para o cargo de diretor de pesquisas do departamento de antissubmarinos da marinha americana. Brittain, por sua vez, foi para Washington trabalhar em outra frente, também, para a marinha.
Durante o tempo em que os 2 pesquisadores estiveram fora, os Laboratórios Bell passaram por uma mudança drástica, igualmente, por causa da guerra. O número de funcionários dobrou (agora eram 9 mil) e cerca de mil projetos foram desenvolvidos para as forças armadas. Eles precisaram, inclusive, mudar-se para uma propriedade maior em Murray Hill, Nova Jérsei.
Ao voltar da guerra os trabalhos foram retomados, mas Shockley foi colocado em um patamar mais elevado, o que acabava consumindo seu tempo com trabalhos burocráticos e o mantinha fora da ação. Para suprir sua vaga foi chamado um rapaz de nome John Bardeen.
Com muitas ideias novas Bardeen, com a ajuda de Brattain, conseguiu encontrar o detalhe que há alguns anos atrás, antes da convocação para a guerra, havia feito o experimento de Shockley dar errado. Assim surgiram os transístores e tudo mudou. Se antes você tinha uma única válvula que podia medir até 30 cm, agora tinha milhares de transístores alocados em uma placa de menos de 5 centímetros quadrados que eram mais baratos, mais simples, muito menores, mais rápidos e que nem mesmo esquentavam.
O Primeiro transístor apresentado em 1947 na Bell Laboratories
Todo mundo feliz, exceto um dos criadores, William Shockley. Shockley era sim um gênio, mas mais do que isso. Ele era egocêntrico, neurótico e, com uma incrível mania de superioridade que não podia aceitar o fato de não ter seu nome incluído como criador na patente do transístor (segundo o documento: John Bardeen e Walter Brattain).
Shockley – que já era uma pessoa de difícil convivência – tornou-se insuportável, não perdendo uma chance de criticar e humilhar algum colega para provar sua superioridade teórica (que as pessonas nem mesmo questionavam). A situação levou ao pedido de demissão de Brattain, enquanto Shockley fora – justamente – preterido em promoções para cargos mais altos.
A não promoção foi a gota d'água para ele. Shockley entrou em uma crise de meia-idade e em 1956 demite-se da Bell Labs, abandona a esposa com câncer, compra um carrão, arruma uma nova namorada, vai dar aula na Caltech e passa a ser consultor de defesa.
O silício vai para o Vale
Muito apegado à mãe e querendo distância de todos, Shockley decide ir morar em Palo Alto onde poderá ficar perto dela, já adoentada e em idade avançada. Não esqueça que nesse momento o Vale ainda está no estágio que vimos no início do texto: 2 grandes empresas de segurança nacional e uma enorme área esperando para ser ocupada, entre elas, o parque tecnológico da universidade local.
E aqui precisamos dedicar alguns parágrafos a Frederick Terman, reitor da Universidade de Stanford que muitas vezes é esquecido nessa história toda de Vale do Silício. Terman é considerado um dos pais do Vale do Silício por ser aquele que visionou o potencial da região para a indústria tecnológica de ponta, e mais: ele fez questão de atrair os talentos para lá. Ao tornar-se decano das engenharias de Stanford ele batalhou até conseguir a autorização para que se criasse o Parque Industrial de Stanford onde a universidade daria apoio às empresas que quisessem começar.
Assim surgiu a primeira incubadora tecnológica do Vale do Silício, com cerca de 3 Km² de área disponível àqueles que quisessem sair da garagem e profissionalizar o negócio. Passaram por ali nomes como HP (fundada nos anos 30 e uma das primeiras empresas tecnológicas do Vale e uma referência para todos), General Electric, Lockheed, Kodak, entre outros. Sem o parque não teríamos nem o Vale nem muitas das empresas que surgiram por conta do ambiente frenético de troca de informações e vivências.
Sabendo que o famoso William Shockley, um dos maiores físicos teóricos de seu tempo estava pensando em montar uma nova empresa de ponta e tinha carinho pelo local, Terman não demorou a entrar em contato e fazer lobby sobre o parque: "Acho que se sua empresa se instalasse aqui, seria vantajoso para nós e para você", disse ele em carta onde tentava aliciar o pesquisador.
Terman (assim como Shockley) sabia do potencial do transístor, pois ele já estava revolucionando o modo como as pessoas lidavam diariamente com as inovações tecnológicas: A Texas Instruments havia lançado o Regency, em 1954, um rádio portátil com 4 transístores, que custava US$ 49,95 e acabou vendendo mais de 100 mil unidades em apenas 1 ano. Esta marca o colocou como um dos produtos novos mais populares e impactantes da história.
Shockley estava certo de que faria muito dinheiro: - "Sairei daqui e farei 1 milhão de dólares", ele disse quando pediu demissão da Bell. Porém, no momento, ele não fazia ideia de como concretizar o plano já que não tinha dinheiro suficiente para financiar a empreitada. A solução foi encontrar um dos pouquíssimos investidores que aceitariam colocar seu dinheiro em tecnologia.
Lembre-se que no final dos anos 50 a esmagadora maioria daqueles que tinham dinheiro para investir estavam em Nova Iorque, operando em Wall Street e colocando grana em coisas sólidas, como propriedades e cotas do governo.
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Uma placa mostra onde a
empresa iniciou as operações |
Investidores no estado da califórnia eram pouquíssimos, investidores dispostos a investir em tecnologia eram mais escassos ainda. Porém, a sorte tratou de ajeitar os detalhes e colocar Arnold Beckman no caminho de Shockley. Beckman havia sido seu professor na Universidade da Califórnia, sabia do que ele era capaz e o melhor: estava bastante milionário depois de uma série de invenções rentáveis.
Vendo os resultados já consolidados e também as possibilidades do futuro, Beckman não hesitou em criar a Shockley Semiconductor Laboratory, uma subsidiária de sua Beckman Instruments e uma das primeiras a funcionar dentro do parque industrial de Stanford.
Assim, oficialmente, o silício foi levado ao Vale, ou melhor, o transístor, na verdade os dois.
Acontece que o silício é um material considerado "supercondutor", que como o nome já deixa claro, o coloca no rol daqueles que melhor conseguem transmitir energia, ignorando quase que totalmente a perda da mesma. Que fique claro que ele não é o melhor supercondutor do planeta, seu ponto positivo reside é outro: ele é de fácil e barata onbtenção.
O silício é o 2º elemento mais abundante do planeta (perdendo só para o oxigênio) e pode ser encontrado bem abaixo dos nossos pés, literalmente, já que quase 1 terço da crosta é composta do material. Assim fica fácil escolher entre preencher os componentens eletrônicos de silício ou ouro, outro supercondutor, certo?
À esquerda temos o silício em sua forma natural, o responsável pela revolução tecnológica pela qual passamos.
Shockley Semiconductor Laboratory
Com o produto ideal e capital para iniciar a empreitada, só faltava 1 coisa para dar o pontapé inicial na Shockley Semiconductor Laboratory: Um time à altura.
Daqueles colegas da antiga Bell Labs que Shockley consultou e tentou levar para seu novo negócio, ninguém aceitou acompanhar um maluco que estava prestes a largar o maior polo industrial do país para abrir uma empresa no meio do nada, há quilômetros da linha de telefone mais próxima (e isso para não citar a sua imagem de uma pessoa insuportável e barraqueira).
Contudo, Shockley era respeitado como um dos maiores engenheiros do país e sua fama era amplamente conhecida no ramo (enquanto que sua fama de maníaco era abafada dentro do Bell). Através de anúncios em jornais não foi nem um pouco difícil para ele – que ainda ganharia o prêmio Nobel de física naquele ano de 1956 – arregimentar um time de jovens, talentosos e entusiasmados pesquisadores que aceitariam largar tudo para entrar de cabeça naquela que seria a 1ª empresa realmente do Vale do Silício.
Na nova empresa ele passaria anos tentando desenvolver o diodo de 4ª camada que, após implementado nos transístores, dispensaria os comandos de liga/desliga e, com isso, conseguiria simplificar e baratear os projetos. A ideia, porém, não se mostrou proveitosa e mesmo após todos os anos dispensados em sua busca, Shockley nada conseguiu. E pior: isso custou a ele a chance de acompanhar o futuro e embarcar na onda do circuito integrado, como veremos logo mais.
Para piorar, ele estava cada vez mais neurótico. Após receber prêmio Nobel – e ter de dividi-lo com seus 2 ex-colegas de Bell Labs – ele pirou totalmente. A partir de então, sempre que iria fazer uma contratação, aplicava pessoalmente um teste de Q.I. aos candidatos e os cronometrava durante as respostas. Depois de contratados os funcionários poderiam ser surpreendidos, sem motivo algum, por um teste com detector de mentiras!! E sim, isto ocorreu quando uma secretária cortou o dedo no trabalho e Shockley pensou estar sendo alvo de uma conspiração. Nem mesmo Beckman conseguia escapar das investidas ferozes de Shockley.
Uma das fotos da ocasião do Nobel na qual Shockley adonou-se de um microscópio alheio no momento exato para que parecesse o mais importante do trio. à sua esquerda John Bardeen e à direita Walter Brattain.
Com esse ambiente de trabalho não demorou muito para que os engenheiros começassem a se rebelar e levassem suas críticas à direção. Arnold Beckman, que era um excelente engenheiro, nada tinha de gestor e preferia empurrar os conflitos com a barriga do que sentar com as partes envolvidas e os resolver. Quando o grupo de funcionários insatisfeitos viu que nada seria feito frente às atitudes de Shockley, 8 deles resolveram pedir demissão.
Eles ficaram conhecidos como os 8 Traidores. Mas antes de entrar no próximo capítulo, há 2 nomes deste grupo que merecem destaque: Robert Noyce e Gordon Moore.
Noyce era o líder nato que Shockley não conseguiu ser. Assim como os demais pioneiros do Vale, ele era mais um dos gênios que foram moldados desde cedo inventado coisas na garagem do pai. Quem o conhecia dizia que nele tudo era perfeito: voz, sorriso, era bonito, era carismático e excelente para lidar com as pessoas. Tinha o que podia ser chamado de “aura”, segundo seu biógrafo.
O investidor da sua futura empresa – que veremos abaixo – só concordou em colocar seu dinheiro no projeto se Noyce fosse o responsável pelo empreendimento. Por essas e outras que ele era conhecido como o prefeito do Vale do Silício.
E se Noyce era o prefeito do Vale, Moore é considerado como a pessoa mais reverenciada e amada da região. Calmo e de fala baixa ele é o criador da famosa Lei de Moore que desde os anos 70 tem previsto com exatidão a evolução dos processadores tanto em potência e número de componentes como em miniaturização.
Robert Noyce à esquerda e Moore à direita
Menos de 1 ano após o início das atividades a Shockley Semiconductor Laboratory sofreu com as primeiras consequências da conduta de William Shockley. Este não resistiu à própria armadilha e ficou cada vez mais refém de sua própria mente. Passodos 6 anos da fundação, sem os seus melhores engenheiros, sem ter conseguido inventar nada tão revolucionário quanto o transistor e após perder a largada da próxima grande guinada tecnológica ele desistiria das pesquisas, a Shockley Semiconductor Laboratory seria vendida e ele iria dar aulas em Stanford.
Sua paranoia intensificou-se ainda mais e ele se tornou obcecado com a ideia de os negros serem geneticamente inferiores e queria provar através de testes de QI o porquê deles não poderem “se reproduzir”. Um triste fim para um dos caras mais importantes do mundo da tecnologia.
Os 8 traidores
Agora, 8 desempregados passavam pelo drama de ter uma ideia, mas não terem como a tirar do papel. O caminho foi o mesmo que Shockleu havia tomado no ano anterior: recorrer a um investidor externo. O "escolhido" foi Sherman Fairchaild, fundador da Fairchaild Aircraft e Fairchaild Camera, um milionário que apostou rapidamente 1.5 milhão de dólares na ideia (o dobro do que fora pedido) e fez nascer a Fairchild Semicondutor.
Os 8 Traidores. Moore é o primeiro da esquerda para a direita e Noyce está no meio.
A condição para o investimento acima do que fora pedido, no entanto, não foi à toa: Com isso Fairchild teria a prioridade de compra do negócio se tudo desse certo em até 3 anos. E como não dar certo? A demanda por transístores crescia a passos largos por 2 motivos: os rádios de bolso que vendiam feito água e ao Sputnik.
Sputnik foi o foguete lançado pelos russos em 4 de outubro de 1957, apenas 3 dias após a fundação da Fairchild Semiconductors, e que daria início a competição pelo espaço. O programa espacial americano – junto do programa militar que fabricava mísseis – impulsionaria ainda mais a demanda por transístores e computadores. E o mais importante: como os 2 deveriam ser pequenos o bastante para caber no “nariz” dos foguetes, a pesquisa por novas tecnologias e miniaturização teria de avançar a passos largos.
O mais legal é que com mais empresas surgindo no Vale, mais pesquisas eram feitas e mais resultados eram obtidos. Às vezes até resultados “repetidos”, como foi o caso da evolução do transistor.
As nova versão consistia em uma placa que combinava diversos grupos de transistores e capacitores e conseguia – ao mesmo tempo – gerar mais eficiência em um espaço muito menor de hardware. Assim criou-se tanto na Texas Instuments, como na Fairchild, o primeiro circuito integrado, ou em outras palavras, o microchip.
O Primeiro – e ainda bastante rudimentar – circuito integrado apresentado, em 1958, na Texas Instruments
O primeiro mercado para a nova tecnologia foi novamente o militar.
Cada míssil balístico Minuteman II, produzido pela Boeing a partir do final da década de 50, precisava de 2 mil microchips (e este era apenas 1 dos mísseis que os utilizava). Em breve, diversas empresas estariam fabricando os pequenos computadores.
E apenas para pontuar como o microchip fora importante também para os civis, veja o que a Texas Instruments fez dessa vez (não esqueça que ela, també, já havia criado o rádio portátil e popularizado os transistores alguns anos atrás entre os "populares"): Uma calculadora de mesa. Sim, estas calculadoras que hoje em dia compramos nas lojas de R$ 1,99 já foram objeto de luxo algumas décadas atrás.
Na época elas custavam cerca de mil dólares (mais de 8 mil em valores corrigidos) e eram um verdadeiro trambolhão. A sacada de Patrick Haggerty (o mesmo cara do radinho) foi que eles poderiam baratear, diminuir e popularizar a calculadora utilizando os microchips.
Assim, em 1967 eles lançavam uma versão mais portátil (cerca de 1 kg) custando "apenas" 150 dólares e que fazia as 4 operações matemáticas básicas. Mais um enorme sucesso que, além de encher a empresa de dinheiro, abriu caminho para algo que Steve Jobs adorava criar: “coisas que as pessoas nem sabiam que precisavam”. Em breve vários produtos do dia a dia consumidos pelas pessoas estariam repletos de microchips.
Mas a Fairchild também se deu bem nessa história toda. Em apenas 2 anos depois a criação da empresa ela já tinha passado de 12 para 12 mil funcionários e tinha uma receita de mais de 130 milhões de dólares por ano (mais de 1 bilhão em valores corrigidos). Nos anos seguintes eles seriam os fornecedores exclusivos do mais de 1 milhão de microchips que o programa Apollo utilizou para levar o homem à lua.
Uma nova cultura
Mesmo com o impacto incalculável do microchip para as pessoas, outra “invenção” da Fairchild deve ser considerada a mais importante. Algo menos palpável, mas ainda assim tão revolucionário quanto: eles criaram uma cultura.
Primeiramente, antes de pensarmos no impacto gerado, temos que pensar no paradigma que existia na época. Estamos falando dos anos 60, antes da Guerra do Vietnã e do movimento Hippie, quando era comum que uma pessoa se formasse, arrumasse um emprego, fizesse carreira e se aposentasse na mesma empresa que começou há 40 anos atrás. Essa era a lógica do mercado, inclusive do mercado tecnológico que existia no Vale do Silício.
Foi com o dia a dia de uma empresa mais “desregrada” que muitos dos funcionários viram que não era impossível criar seu próprio negócio e que o Vale do Silício tinha oportunidades de sobra para quem quisesse começar do zero. Noyce era totalmente avesso ao sistema da costa leste e seus cargos, hierarquia rígida e comando centralizado. Assim, fazia questão de que na Fairchild tudo fosse "fora do padrão". Jornalistas da épica que visitaram a empresa noticiaram surpresos que ele tinha uma mesa simples e de metal posicionada no meio de todo mundo (contrariando a lógica comum onde quanto maior o cargo, maior a mesa e melhor a qualidade da madeira). Inclusive funcionários recém-contratados tinham mesas espalhafatosas de madeira enquanto ele preferia a simplicidade.
Mesmo o financiamento agora era possível. Até então, conseguir um investidor para uma ideia high-tech era muito difícil, mas quando as empresas de investimento da costa Leste (principalmente Nova Iorque) viram o lucro de Fairchild na transação da Fairchild Semiconductors, as atenções foram todas direcionadas a Palo Alto, Mountainview e as minas de dinheiro que poderiam nascer a qualquer momento.
Assim, durante os próximos anos, surgiriam as Fairchildrens, as empresas que se desenvolveram de funcionários da Fairchild. Alguns dos nomes incluem:
- AMD
- Atmel
- National Semiconductor
- LSI
- PMC-Sierra
- Sequoia Capital
- Signetics
- Synaptics
- Xilinx
- Zilog
Algumas foram criadas pelos 8 engenheiros iniciais e outras por funcionários contratados ao longo das próximas décadas (a Fairchild existe até hoje).
E até mesmo os seus fundadores entraram no clima. Em 1968, quando já gozavam do contrato com a Nasa, e a companhia havia alcançado uma lucratividade jamais imaginada, Robert Noyce e Gordon Moore estavam desapontados com o tamanho que ela havia tomado e que, consequentemente, fazia com eles acabassem atolados de trabalho burocrático e não pudessem mais colocar a mão na massa.
Com esse pensamento na cabeça os 2, ricos e bem-sucedidos, resolveram abandonar tudo para criar uma nova e incerta empresa. Um novo negócio que focaria nos microchips e acabaria por criar o primeiro processador do mundo, dando o próximo passo na revolução digital. A empresa é hoje a maior fabricante de chips semicondutores do mundo em rendimentos, a Intel, criada em 1968.
Os fundadores em frente ao prédio da Intel em Santa Clara, 1970.
E depois?
De lá para cá, o resto é, literalmente, história. E assim, por causa da guerra, de um louco, de um reitor quase nunca lembrado e um punhado de mentes criativas na hora certa e no local certo criou-se o local mais efervescente e brilhante da tecnologia.
Por causa deles é que podemos, hoje, viver o futuro e ver as inovações ocorrendo em uma velocidade quase que diária.
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aqui! Bye!