Aprendemos a ler quando criança e ao longo da jornada em direção ao mundo adulto, alcançamos um bizarro objetivo inserido acidentalmente no método de ensino da língua portuguesa: ódio à leitura.
Parece contradição, mas chegamos à escola pequeninos, com uma fome de conhecimento gigantesca e somos obrigados a aprender a ler como adultos e quando finalmente somos adultos e já não temos o menos interesse em ler alguma coisa, somos convidados a ler um texto com um olhar infantil.
Essa situação pode parecer surreal, mas se repete em todas as partes desse país que se orgulha de reduzir a cada ano o número de analfabetos, mas exibe vergonhosamente uma estatística absurda de quase 28 % de alfabetizados funcionais (só sabem escrever o nome e ler o nome do bar ou do ônibus).
Os professores (culpá-los ou não, eis a questão) mal preparados e mal direcionados, continuam com a sua missão de despertar o gosto pela leitura em seus alunos por meio do ensino da gramática, sem levar em consideração que é preciso primeiramente suscitar a arte do ler por prazer.
No artigo Dígrafo do escritor Rubem Alves, o autor disserta sobre o prazer da leitura e em como ele se orgulha de escrever como e para crianças.
Ele conta com espanto sobre a carta que recebeu de um leitor juvenil, onde o menino diz que sua professora pede a ele e aos coleguinhas de classe para encontrar no texto dígrafos e outros termos que o autor sequer consegue imaginar o significado.
Não consigo formular uma única frase humana com dígrafo , ele diz e defende que não é possível teorizar sobre algo que nos dá tanto prazer sob o risco de matar essa vontade.
Não há dúvida alguma que o estudo da gramática é fundamental para o entendimento da língua portuguesa, mas o que precisamos fazer como professores, é uma reflexão sobre como equilibrar esse ensino com o convite a leitura.
Essa á a proposta defendida pela professora e especialista da Unicamp Ingedore Koch, que em entrevista a Luis Costa Ferreira Junior conta que devemos priorizar a construção de texto com reflexão. Para entender como os textos funcionam, segundo a professora, é necessário primeiro o uso, depois a nomenclatura.
Ela nos conta que o estudo da língua portuguesa é essencial para que as nossas crianças possam aprender a se expressar claramente no mundo (ainda mais numa era de orkuts e MSN), mas é possível abordar a gramática, sem ter um ensino gramaticóide.
Para ensinar a interpretar um texto, não existem receitas de bolos, diz a professora, mas se o professor tornar a aula instigante e estimular a produção de textos com temas que os alunos se identifiquem, conseguirá manter em seus pupilos o gosto de ler por prazer que havia no inicio, sem que o aluno chegue à idade adulta sendo órfão de livro.
Fonte: www.recantodasletras.uol.com.br
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