A pintura é a invenção de uma paisagem com o pretexto de enunciar um modelo de conhecimento, correspondente ao estágio da cultura, e eternizar um sentimento.
O pintor se aproxima da paisagem para explorar os limites do olhar, seduzido pela coisa e a possibilidade de inventar uma imagem ou um horizonte, um lugar distante daquilo que entendemos como realidade, capaz de reter a contemplação.
De fundo ou cenário para alguma coisa acontecer, a paisagem tornou-se o lugar das satisfações e curiosidades do olhar.
É preciso se desacostumar de uma forma habitual de ver o mundo, como fez Leonardo da Vinci, e olhar as coisas com uma paixão e uma racionalidade que esfacelam a ideia de uma percepção natural, sem a influência do pensamento.
A pintura é a possibilidade de uma ideia ou de um saber sobre a paisagem.
Reproduzir a aparência das coisas era a essência da arte, contemplava-se o quadro como se estivesse diante de uma janela ou de um espelho.
Estamos sempre relacionando tudo que vemos com a nossa carência de olhar, nos apropriamos das cenas vazias dando-lhes o sentido que nos pareça conveniente, para insinuar uma comunicação sem a interferência do raciocínio.
Mas o artista quer ir mais longe; enfrenta as aventuras da imagem, olha para dentro das coisas e procura no fundo da paisagem, o que não se vê, à distância.
Ao transformar a paisagem em pintura o pintor quer revelar a intimidade do mundo.
Fonte: A Fonte - arte e crítica
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