A correria na procura da substância fosfoetanolamina sintética no campus de São Carlos, interior de São Paulo, levou à decisão da universidade.
Imagem de cápsulas similar a da fosfoetanolamina, que é distribuída no campus da USP São Carlos (Foto: Reprodução)
Por conta do aumento da procura da fosfoetanolamina sintética, substância que muitos pacientes acreditam ser capaz de combater o câncer, no campus de São Carlos (interior de São Paulo), a Universidade de São Paulo (USP) decidiu enviar pelo correio as cápsulas. A medida visa diminuir a correria ao campus. Com isso, os 742 doentes beneficiados por liminares terão de aguardar a fórmula em casa. A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica pretende apelar ao Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar a distribuição.
A procura ocorre no Instituto de Química de São Carlos (IQSC), que divulgou na sexta (16) um comunicado e uma cartilha com perguntas e respostas para orientar as pessoas. No material, a orientação é para que ninguém compareça no campus para buscar a substância, mesmo quem obteve autorização judicial. "O IQSC será notificado da liminar por oficial de Justiça e encaminhará a substância via Sedex/AR no endereço constante na petição inicial. O serviço do correio será cobrado do destinatário", diz a nota.
O instituto informa ainda que a encomenda "não é acompanhada de bula ou informações sobre eventuais contraindicações e efeitos colaterais". E ressalta que "não dispõe de médico e não pode orientar nem prescrever a utilização da referida substância". Também garante não ter "dados sobre a eficácia no tratamento dos diferentes tipos de câncer em seres humanos".
Presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, Evanius Wiermann diz que a entidade pretende procurar o STF para tentar reverter a distribuição. "Estamos nos movimentando para tentar sensibilizar o Supremo Tribunal Federal (STF). O que nos preocupa é o uso de uma droga sem segurança comprovada. Essa situação está criando uma jurisprudência para que qualquer pessoa use uma substância que não tem comprovação científica."
Entenda o caso
A fosfoetanolamina foi estudada pelo professor aposentado Gilberto Orivaldo Chierice, que era ligado ao Grupo de Química Analítica e Tecnologia de Polímeros. Na ocasião, segundo o IQSC, algumas pessoas chegaram a usar a substância como medicamento, o que era permitido pela legislação. Surgiram então as primeiras informações de que a fórmula combateria o câncer. Desde o ano passado, qualquer droga experimental somente pode ser testada com o aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Um homem chegou a fabricar a substância em casa e foi preso.
O instituto informou ainda que não distribui a fosfoetanolamina, porque a USP não assumiu a titularidade das pesquisas de Chierice. Entretanto, como tem capacidade de produção, o IQSC tem sido obrigado pela Justiça a fazer a droga sintética. A substância não foi testada clinicamente. O criador diz que chegou a acionar a Anvisa e não obteve retorno. Já o órgão divulgou nota nesta semana para garantir que nunca foi procurado para qualquer análise.
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