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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Luz e Sombra na Fotografia

Neste post da galera do Portal Photos, Ricky Arruda comenta e nos ensina sobre a importância destes dois componentes da fotografia. Confiram o depoimento deste excelente profissional:
Fotos: Ricky Arruda
Muito se fala sobre a luz. Todos nós sabemos a importância que uma boa – e bonita – luz tem em uma fotografia. Há quem diga que a luz é tudo em uma foto. Sem extremismos, pode-se dizer que a luz é quase tudo, porque a ela precisam se somar o momento, a situação, a estética, o interesse entre outras coisas. Mas vemos pouca gente comentando sobre a sombra – ou as sombras. E elas são tão – ou mais – importantes do que a luz. Na verdade, uma não existe sem a outra.

Em uma música, os silêncios, as pausas, são tão ou mais importantes que os acordes. Ditam ritmos, dão respiros. Na fotografia a sombra, seja suave ou dura, tem também importância essencial. Por mais delicada e suave que seja a luz, bem difusa e equilibrada, em algum lugar e de alguma forma teremos que lidar com algum tipo de sombra, que precisa, nesse caso, estar também suave, quase inexistente, e equilibrada. Se ao contrario, tivermos uma luz dura, bem definida e forte, ainda mais importantes serão as sombras, pois elas terão relevância.


E tem mais: para enxergarmos a luz, muitas vezes é mais fácil olharmos as sombras. Outro dia eu conversava com um pequeno grupo de fotógrafos em inicio de carreira e falei sobre as sombras – e sobre a importância delas. Foi aí que alguém me interrompeu dizendo: “Que boa dica Ricky, fica realmente mais fácil olharmos as sombras para enxergarmos a luz”. Então vamos olhar para as luzes e sombras, para fazê-las adequadas ao que pretendemos.

Inicialmente, vamos lembrar que qualquer dispositivo que produza luz pode ser utilizado para bem iluminar uma fotografia. Logo em seguida é importante saber o tamanho de cada dispositivo, que produzirá luz em determinada quantidade de espaço, e também se ela se apresenta focada ou dispersa. Em seguida, temos que ver a intensidade dessa luz e sua potência. Com esses dois pontos vistos, temos que atentar para a ‘razão de contraste’, que basicamente significa a forma que distribuímos as luzes e suas potências. E finalmente, a temperatura dessa luz, que influi significativamente na cor da imagem final.

Uma das primeiras atenções que precisamos ter é sobre a luz suave ou a luz dura. Cada uma tem suas dificuldades, suas virtudes e qualidades, suas limitações e sua utilidade. Outra anotação relevante, de algo que muitas pessoas acabam não se dando conta ou o valor necessário: iluminar é muito diferente de clarear. Iluminar é destacar relevos, formas, luzes e sombras, de forma correta e adequada a valorizar o que se fotografa. Portanto, gente que acha que clareando tudo – às vezes até no computador, em pós-produção – definitivamente está invertendo o processo, porque a fotografia deve ser resolvida no clique, na hora de sua realização, e não depois disso.


A luz suave, bastante difusa e generalizada, não apresenta sombras marcadas ou, até mesmo não apresenta sombras quaisquer. É preciso saber o que queremos, qual nosso objetivo e o efeito que pretendemos. Mas o fato é que com uma luz suave e sem sombras, não corremos o risco de termos uma fotografia muito ruim. A luz suave, ao contrário da dura, causa sensações de delicadeza, de tranquilidade. A luz suave, se for mal aplicada, trará um resultado final sem graça, sem muita essência. Já uma luz suave bem feita, requer que se use a luz de forma correta, seja através do uso de modificadores, tais como rebatedores e difusores, seja através da correta percepção dela, em sua forma natural. Um exemplo simples é um dia nublado, quando as nuvens servem como um grande “haze” natural.

Para criarmos uma bonita luz suave, não basta afastar o modelo da fonte de luz, porque a intensidade se esvairá. Para isso, devemos usar os rebatedores e difusores, sendo que os primeiros, como o próprio nome diz, rebatem a luz vinda de determinada fonte, até chegarem ao objeto fotografado, e os segundos filtram essa luz, entre o emissor e o objeto.

Já aquela que chamamos de luz dura, tem sombras bem marcadas, definidas. A luz é contrastada, significativamente alta em algumas partes e baixa em outras. Incide de forma direta sobre o objeto fotografado. É importantíssimo sabermos lidar com essa luz dura. Vamos notar que a sombra sempre apresenta muito impacto e impressões fortes – lembrando que ela é bem visível, nos erros e acertos. A luz dura marca silhuetas, coloca efeitos ‘dramáticos’ na imagem, desvia ou foca atenções. Além disso, a luz dura ressalta os defeitos e imperfeições. Como exemplo fácil, temos um dia de sol forte e céu claro e aberto.



Nenhuma luz é melhor que a outra. Também não há uma luz certa para tudo. O que precisamos é aplicar corretamente cada uma delas, para os casos adequados, e levando em conta o resultado final que pretendemos. Pois bem. Tratei no meu post anterior, dos momentos e formas em que podemos fazer fotos posadas de casamento. E agora, para completar aquele tema, quero ressaltar algumas formas que utilizamos, eu e a Anna Quast, minha esposa, para iluminarmos aquelas imagens.

Para a cobertura de casamento não levamos flashes de estúdio, com seus vários modificadores de luz, mas apenas quatro flashes speedlight (no nosso caso os 600RT, da Canon), que podemos disparar fora da câmera, via rádio. Levamos também alguns difusores e rebatedores, que se encaixam a esses flashes. Além disso, utilizamos também dois dispositivos portáteis de luz contínua, com regulagem de intensidade e também com possíveis difusores. Buscamos, na elaboração da imagem, locais que nos propiciem a correta iluminação, mesmo com algumas dificuldades. Paredes e tetos podem ser usados para rebater a luz. Cortinas e detalhes servem para filtrar a luz. Elementos de arquitetura ou de decoração podem nos fornecer sombras. Com esses pequenos recursos, realizamos as fotos posadas, algumas delas marcando luzes e sombras, duras, e outras rebatendo e difundindo luzes, para fazê-las mais suaves.

Além de tudo que já tratamos acima, é importante lembrarmos da direção da luz. Uma luz muito frontal, de regra, tende a ‘chapar’ o objeto, sem valorizar suas formas e silhuetas. De regra uma luz ‘correta’ e que funciona é a utilização de uma fonte principal a 45 graus, com uma secundária na lateral oposta (pode ser um rebatedor) posicionada próxima do eixo da câmera. Na fotografia temos que tomar cuidado com a fotometria, especialmente para que o olho do lado sombrio não fique totalmente na sombra.


Vamos beber aqui um pouco na Pintura, em um dos grandes mestres do retrato pintado. Rembrandt, pintor holandês, lá pelos anos mil e seiscentos, utilizava a técnica do ‘chiaroscuro’, ou seja, do claro e escuro, coisa que antes Caravaggio já fazia (Da Vinci também utilizava). Essa técnica de luz consiste no forte posicionamento da luz e da sombra, sendo que esta fazia parte da composição e também da ‘alma’ da imagem, pintada.

Usamos também uma técnica de projetar sombras nos fundos, destacando os noivos. São fotos que chamam atenção e não apresentam grandes dificuldades. Temos apenas que cuidar para ver os recortes destas sombras. Mas às vezes é muito bonito fotografarmos em contraluz, valorizando silhuetas, formas e contornos. São fotografias sempre interessantes e que, especialmente num casamento, uma vez que os vestidos e véus possuem transparências, rendas, texturas e detalhes que valorizam bastante a silhueta e a contraluz.

Como escrevi lá no início, não existe luz sem sombra. E muitas vezes, a sombra compõe, recorta, dá forma, completa ou insinua. Vale fotografar a sombra também. Com ela contamos histórias. Fotografando com meu celular, no meu dia-a-dia, sempre me deparo com luzes e suas sombras. E, muitas vezes, nesse gostoso exercício diário de fotografar sem compromisso, podemos dar margens a experimentações, ideias, treinar o olhar e as possibilidades.

Por hoje é isso. O objetivo não era esgotar o tão amplo – e importante – tema da iluminação nem descer a detalhes de técnicas e possibilidades, mas essencialmente deixar o recado de que uma foto bem iluminada é essencial – e que isso é possível fazer de forma simples e eficaz.

Para ilustrar esta coluna algumas fotos de noivas e outras que destacam a importância das sombras na confecção de uma bonita imagem. Há fotos capturadas com câmeras e outras com telefone celular, publicadas no Instagram (@rickyarruda).

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