A palavra Saudade traz em si, diversos significados que podem ser interpretados de acordo com o contexto onde é aplicado. Sua origem encontra-se no Latim, Solitate, e se pesquisada, descobriremos que a conotação contemporânea distanciou-se da original. Saudade não mais se refere ao sentimento de solidão preservado em variações de línguas românicas como o espanhol: soledad e soledat.
Sobre a saudade, podemos encontrar definições como "Sentimento
mais ou menos melancólico de ausência, ligado pela memória
à situações de privação da presença
de alguém ou de algo, de afastamento de um lugar ou de uma coisa, ou
à ausência de certas experiências e determinados prazeres
já vividos e considerados pela pessoa em causa como um bem desejável";
ou "Lembrança nostálgica e, ao mesmo tempo, suave, de pessoa
ou coisa distante ou extinta. Pesar pela ausência de alguém que
nos é querido". Como sinônimos, encontramos Lembrança
e Nostalgia.
Em 30 de janeiro celebra-se o "Dia da Saudade". Na gramática
Saudade é substantivo abstrato, tão abstrato que só existe
na língua portuguesa. Os outros idiomas têm dificuldade em traduzi-la
ou atribuir-lhe um significado preciso: Te extraño (castelhano), J'ai
regret (francês) e Ich vermisse dish (alemão).
No idioma inglês encontramos várias tentativas: homesickness
(equivalente a saudade de casa ou do país), longing e to miss (sentir
falta de uma pessoa), e nostalgia (nostalgia do passado, da infância).
Mas todas essas expressões estrangeiras não definem o que sentimos.
São apenas tentativas de determinar esse sentimento que nós
mesmos não sabemos exatamente o que é. Não é só
um obstáculo ou uma incompatibilidade da linguagem, mas é principalmente
uma característica cultural daqueles que falam a língua portuguesa.
Saudade não tem cor, mas pode ter cheiro. Não podemos ver nem
tocar, mas sabemos o quanto é grande. Pode ser o sentimento que alimenta
um relacionamento amoroso ou apenas o que sobra dele. Pode ser uma ausência
suave ou um tipo de solidão. Pode ser uma recordação
daquele momento e daquela pessoa, que um dia, mesmo sabendo ser impossível,
ousamos querer reviver e rever. É a dor de quem encontrou e nunca mais
encontrará, de quem sentiu e nunca mais voltará a sentir. A
saudade se combina com outros sentimentos e procria-se. A soma da saudade
com a solidão é igual a Dor. O resultado da saudade com a Esperança
é a Motivação.
Saudade é uma só, em diferentes palavras. É comum encontrá-la
grafada nas lápides em alusão a dor da ausência provocada
pela morte. Mas na Literatura e na Música é um tema crônico.
É quem arquiteta a estrofe e conduz o tom. Não importa o gênero
literário ou o estilo musical, não importa o autor, a época
ou a situação.
Casimiro de Abreu versificou sua saudade da infância: "Oh! que
saudades que eu tenho / Da aurora da minha vida / Da minha infância
querida / Que os anos não trazem mais!". Álvares de Azevedo
antecipou a saudade mortal: "Se eu morresse amanhã, viria ao menos
/ Fechar meus olhos minha triste irmã / Minha mãe de saudades
morreria / Se eu morresse amanhã!". A poetisa portuguesa, Florbela
Espanca, também registrou sua saudade: "E a esta hora tudo em
mim revive / Saudades de saudades que não tenho... / Sonhos que são
os sonhos dos que eu tive...".
O Rock brasileiro transformou a saudade numa de suas bandeiras. Renato Russo
cantou: "nessa saudade que eu sinto / De tudo que eu ainda não
vi". Ainda nas canções de Renato: "dos nossos planos
é que tenho mais saudade". Entre o Rock e a MPB, Cazuza, declarou:
"Saudade do que nunca vai voltar / E dos amigos que se foram / Eu hoje
estou com saudade". Tom Jobim e Vinícius de Moraes compuseram:
"Chega de saudade / A realidade é que sem ela não há
paz...".
Saudade é um registro fiel do passado. É a prova incontestável
de tudo que vivemos e ficou impresso na alma. Ao confessarmos uma saudade,
na verdade, estamos nos vangloriando de que, ao menos uma vez na vida, conhecemos
pessoas e vivemos situações que foram boas, e serão eternas
em nossa alma. Nutri-la, é alimentar o espírito e a própria
existência.
Se há tantas e, ao mesmo tempo, tão imprecisas definições
de saudade, resta-nos apenas cultivá-la e alimentá-la com pensamentos,
músicas, perfumes, fotografias, lugares, fins de tarde e madrugadas.
Saibamos viver plenamente o presente, pois ele será a saudosa lembrança
de amanhã.
Saudade - Crônica de Miguel Falabella
Trancar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um tapa, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater a cabeça na quina da mesa, dói
morder a língua, dói cólica, cárie e pedra no
rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade de um irmão que mora longe.
Saudade de uma cachoeira da infância.
Saudade de um filho que estuda fora.
Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra mais.
Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que
nunca existiu.
Saudade de uma cidade.
Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa.
Doem essas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorida é a saudade de quem se
ama.
Saudade da pele, do cheiro, dos beijos.
Saudade da presença, e até da ausência
consentida.
Você podia ficar na sala e ela no quarto, sem se verem,
mas sabiam-se lá.
Você podia ir para o dentista e ela para a faculdade,
mas sabiam-se onde.
Você podia ficar o dia sem vê-la, ela o dia sem
vê-lo, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao
outro sobra uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Não saber mais se ela continua fungando num ambiente
mais frio.
Não saber se ele continua sem fazer a barba por causa
daquela alergia.
Não saber se ela ainda usa aquela saia.
Não saber se ele foi na consulta com o dermatologista
como prometeu.
Não saber se ela tem comido bem por causa daquela mania de estar sempre
ocupada; se ele tem assistido às aulas de inglês, se aprendeu
a entrar na Internet e encontrar a página do Diário Oficial;
se ela aprendeu a estacionar entre dois carros; se ele continua preferindo
Malzbier; se ela continua preferindo Margarita; se ela continua sorrindo com
aqueles olhinhos apertados; se ela continua dançando daquele jeitinho
enlouquecedor; se ela continua cantando tão bem; se ela continua detestando
o Mc Donald's. Se ele continua amando; se ela continua a chorar até
nas comédias.
Saudade é não saber mesmo!
Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos;
Não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento;
Não saber como frear as lágrimas diante de uma música;
Não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche.
Saudade é não querer saber se ela está com outro, e
ao mesmo tempo querer.
É não saber se ele está feliz, e ao mesmo tempo perguntar
a todos os amigos por isso...
É não querer saber se ele está mais magro, se ela está
mais bela.
Saudade é nunca mais saber de quem se ama, e ainda assim doer;
Saudade é isso que senti enquanto estive escrevendo e o que você,
provavelmente, está sentindo agora depois que acabou de ler...
Fonte: www.spectrumgothic.com.br
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