Moura Ramos Indústria Gráfica: livros, revistas, embalagens, sacolas, agendas e impressos em geral.: Feira Internacional do Livro de Guadalajara (FIL) – o maior evento literário do mundo

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Feira Internacional do Livro de Guadalajara (FIL) – o maior evento literário do mundo

Foto de Yörch
1. Este ano a Feira Internacional do Livro de Guadalajara (FIL) – o maior evento literário do mundo em língua espanhola – organiza uma série de mesas chamadas “Destinação Brasil”. O avião que sai de Guarulhos está lotado de escritores brasileiros. Na fila de embarque um deles fantasia com a possibilidade de o avião cair: “Quem roubaria as manchetes do jornal? Quem é mais famoso?”, pergunta. Eu imagino um conto: um grupinho de jovens aspirantes a escritores organiza um atentado terrorista para derrubar o avião e assim – finalmente! – conseguir publicar. O interessante do conto é que nesse grupinho estaria o sucessor de Machado de Assis, o cara que está destinado a ser o grande escritor brasileiro do século XXI. E aí? Deixamos os caras derrubarem o avião?
2. No aeroporto da Cidade do México todos os passageiros que vêm da América do Sul têm que pegar as malas e passar pela alfândega. Inclusive aqueles que têm conexão para outras cidades. É porque são “vuelos calientes” (voos quentes) com malas que – teoricamente – transportam cocaína. O absurdo é que os funcionários do aeroporto têm que descer as malas da esteira e não podem deixá-las voltar na parte de trás, fora da vista dos passageiros. Então eles precisam parar o movimento da esteira o tempo todo e o processo se torna eterno. Por quê? Quer saber? Porque se uma mala “limpa” (revisada por raios X e cachorros treinados) volta para trás pode acontecer de um funcionário do aeroporto pegar a mala e colocar droga nela. É mesmo? É. De fato, há umas semanas prenderam um monte de funcionários do aeroporto envolvidos com redes de tráfico. Ao lado da esteira converso com os escritores brasileiros e sinto a impaciência deles. Eu rio. Bem-vindos ao México, meus caros. É uma pequena vingança pessoal por todas as filas que eu fiz no Brasil nos últimos meses…
3. Cada ano a FIL tem um país convidado: nesta ocasião é o Chile. O estande do Chile na Feira fica logo, logo na entrada e simula a estrutura de uma casa enorme. Uma ideia magnífica, a literatura chilena é uma casa e os convidados, na verdade, são os mexicanos que visitam a FIL. Entro na casa chilena e penso em meu escritor chileno favorito, o excêntrico Juan Emar. Depois lembro minhas leituras de Donoso, um dos poucos autores do Boom cujas obras ainda não envelheceram. E não posso não pensar em Bolaño, o mais mexicano dos escritores chilenos. E nos jovens de minha geração: Andrea Jeftanovic, Alejandro Zambra, Álvaro Bisama, Patricio Jara… O melhor da FIL é que nos lembra que a verdadeira pátria dos leitores é a língua. A casa do Chile é também minha casa.
4. O propósito da FIL é reunir a maior quantidade de escritores por metro quadrado do mundo. Para confirmar isso você pode ir ao lobby do hotel Hilton pela manhã ou a alguma das famosíssimas festas pela noite. Mas nesta ocasião eu descobri uma nova técnica da FIL para incrementar a média de escritores por metro quadrado – o chamado coeficiente Bartleby, porque se o escritor está em feira ou festival não pode escrever – que achei genial: a utilização de dublês. O caso que me revelou essa verdade foi o do escritor argentino Andrés Neuman. O cara estava em todas partes: no lobby do Hilton dando entrevista para um jornal de NY; numa mesa de poesia contemporânea da Costa Rica; no lançamento do último livro da última moça bonita que escreve mais ou menos bem; num debate sobre o futuro das narrativas homoeróticas-policiais-eruditas; no banheiro de uma festa dando gorjeta à moça que cuida da limpeza. Im-pres-sio-nan-te, Neuman. O outro caso óbvio, mas por motivos diferentes, é Mario Bellatin. A especialidade dele é aparecer em corredores e umbrais. Quando você chega num lugar, Mario já está ali. É o contrario do Godot de Beckett. E não é por divulgação, não: tem um Mario real que está dormindo no quarto do hotel e os outros são os Marios que o Mario real está sonhando.
5. O resultado da acumulação massiva de escritores, editores, críticos e jornalistas em espaços reduzidos é a necessidade de criar novas regras de etiqueta. Eis aqui algumas questões para analisar:
5.1 Como reagir se você encontra seu escritor favorito fazendo xixi no vaso sanitário vizinho ao seu? Fica elegante dar umas tapinhas nas costas dele e falar assim: “cara, adorei seu último romance”?
5.2 Que dizer se numa festa depois de uma conversa etílica com um indíviduo desconhecido você finalmente pergunta o nome dele e descobre que é seu íntimo amigo no Facebook e que você pediu que ele escrevesse um texto para uma revista e que você ainda não o pagou? É permitido fugir?
5.3 Que fazer se sem saber você acaba de dizer uma verdadeira besteira sobre um escritor na frente do editor e da namorada dele? Ainda dá para falar que era brincadeira?
5.4 É lícito o uso da violência quando o editor que não quis publicar seu primeiro romance abraça você com um carinho desbordante?
6. Guadalajara é a minha cidade, eu nasci aqui, eu morei aqui muitos anos. Que uma cidade como Guadalajara – apática, inculta, conservadora – se transforme por uma semana na capital mundial do livro em espanhol é um autêntico milagre. Mas o verdadeiro México as vezes irrompe: no sábado 1º de dezembro, dia da posse do novo presidente, os protestos chegaram até a Feira e houve grande confusão. Parece um péssimo sinal dos tempos que virão para o México. Tomara que eu esteja errado.

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p.s. Como minha próxima coluna será já em janeiro, aproveito para desejar a todos um feliz Apocalipse, um ótimo Natal e um divertidíssimo réveillon. Até 2013!

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Por Juan Pablo Villalobos - Fonte: http://www.blogdacompanhia.com.br/

Juan Pablo Villalobos nasceu em Guadalajara, México, e atualmente mora no Brasil. Festa no covil é seu primeiro romance. Editado originalmente na Espanha, já foi traduzido na Alemanha, Reino Unido, Holanda e França, e tem lançamento previsto em mais sete países. Ele colabora para o blog com uma coluna mensal.
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