Mossoró é uma cidade brasileira no interior do estado do Rio Grande do Norte. Pertence à mesorregião do Oeste Potiguar e à microrregião homônima, localizando-se a uma distância de 285 km a noroeste da capital do estado, Natal. Ocupa uma área de 2.110,207 km² (o maior município do estado em área), sendo que 11,5834 km² estão em perímetro urbano. Em 2012 sua população foi estimada pelo IBGE em 266 758 habitantes, sendo o segundo mais populoso do Rio Grande do Norte (ficando atrás somente da capital) e o 94º de todo o país.
A sede tem uma temperatura média anual de 27,4°C e na vegetação original do município pode-se observar a presença da caatinga hiperxerófila, carnaubal e a vegetação halófica. Com uma taxa de urbanização 91,31 %, o município contava em 2009 com 115 estabelecimentos de saúde. O seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,735, considerado médio pelo PNUD e o sexto maior do estado.Localizada entre Natal e Fortaleza, às quais é ligada pela BR-304, Mossoró é uma das principais cidades do interior nordestino, e atualmente vive um intenso crescimento econômico e de infraestrutura, considerada uma das cidades de médio porte brasileiras mais atraentes para investimentos no país. O município é o maior produtor em terra, de petróleo no país, como também de sal marinho. A fruticultura irrigada, voltada em grande parte para a exportação, também possui relevância na economia do estado, tendo um dos maiores PIB per capita da região. As festividades realizadas na cidade anualmente, atraem uma enorme quantidade de turistas, como o Mossoró Cidade Junina, um dos maiores arraiás do Brasil, e o Auto da Liberdade, o maior espetáculo brasileiro em palco ao ar livre.Reduto cultural, o município marca pelo Motim das Mulheres, pelo primeiro voto feminino do país, por ter libertado seus escravos cinco anos antes da Lei Áurea, sem falar da resistência histórica ao bando de Lampião. O município foi desmembrado de Assu em 1852 e tinha o nome de Vila de Santa Luzia de Mossoró. Hoje, conhecida como a "Capital do Oeste" por ter se destacado das demais na região Oeste Potiguar, destaca-se também pelo turismo de negócios.
Abolição dos escravos
Mossoró foi a primeira cidade do Rio Grande do
Norte a fazer campanhas sistemáticas para liberação dos seus escravos.
Não foi uma luta de poucos; foi uma luta que envolveu, de uma maneira
ou de outra, toda a cidade de Mossoró. E por ter sido uma luta
coletiva, pacífica e pioneira no Estado, é comemorada ainda hoje como
sendo a maior festa cívica da cidade.
O Rio Grande do Norte não chegou a ser um Estado que dependesse da mão de obra escrava para o seu desenvolvimento.
1º de setembro de 1848, Casimiro José de
Morais Sarmento, deputado geral pelo Rio Grande do Norte, falava na
sessão daquele dia:
"Concorda em que o trabalho do escravo não é
necessário. No Rio Grande do Norte há poucos escravos, e quase toda a
agricultura é feita por braços livres. Conhece muitos senhores de
engenho que não têm senão quatro ou cinco escravos, entretanto que têm
20, 25 e 40 trabalhadores livres, e se não os têm em maior número, é
pelo pequeno salário que lhes pagão. Disto se convenceu o orador quando
ali foi presidente, porque em conseqüência de elevar o salário a 400
reis por dia, nunca lhe faltarão operários livres para trabalharem na
estrada que teve de fazer".
Mossoró nunca foi uma cidade escravocrata.
Possuía apenas 153 escravos em 1862, para uma população livre de 2.493
indivíduos. Estatisticamente o percentual era insignificante. A cidade
não tinha engenhos, cuidava do gado e para isso não precisava de
muitos braços. Mas se o número de cativos era tão baixo, o que
justificou o movimento abolicionista em Mossoró?
1877 foi um ano terrível para os sertões
nordestinos. A terra era devastada por uma aterrorizante seca que se
estendeu até 1879. A população faminta abandonava seus lares em busca
do litoral. Mossoró, Macau e Areia Branca, no Rio Grande do Norte,
Aracati e Fortaleza, no Ceará, abrigaram grupos numerosos de
flagelados. Mas não eram só os pobres que sofriam com a seca não. Os
ricos fazendeiros, donos de escravos também sofriam. E para amenizar os
prejuízos, esses fazendeiros mandavam para as cidades litorâneas seus
escravos para serem vendidos, e Mossoró por ser uma das cidades onde o
comércio mais florescia, recebia muitos escravos para esse fim. Desse
modo era estabelecido na cidade o comércio dos escravos. Várias casas
comerciais se especializaram nesse tipo de mercadoria, entre elas a
Mossoró & Cia de propriedade do Barão de Ibiapaba. Os escravos
comprados em Mossoró eram remetidos para Fortaleza e, dali, para as
províncias do sul. Talvez tenha sido esse tipo de comércio que tenha
despertado o sentimento de piedade pelos cativos. A idéia de libertação
começou no Ceará em 1881.
Em Mossoró, a idéia surgiu por ocasião de
uma homenagem prestada na Loja Maçônica 24 de junho ao casal Romualdo
Lopes Galvão, líder da política e do comércio. Presente à homenagem se
encontrava o Venerável da Loja Maçônica 24 de junho, Frederico Antônio
de Carvalho, a quem coube a idéia da fundação de uma sociedade cuja
finalidade fosse a liberação dos cativos.
Em 6 de janeiro de 1883 é criada "A
Sociedade Libertadora Mossoroense", cuja presidência provisória fica a
cargo de Romualdo Lopes Galvão. Adere ao movimento os melhores
elementos da terra. A diretoria definitiva fica formada por Joaquim
Bezerra da Costa Mendes como presidente, Romualdo Lopes Galvão como
vice-presidente, Frederico de Carvalho como primeiro secretário, o Dr.
Paulo Leitão Loureiro de Albuquerque como orador. Nessa época, Mossoró
contava apenas com 86 escravos. A 10 de junho alforria 40 desses
escravos. A Sociedade Libertadora tinha um Código, com um único artigo e
sem parágrafos, onde estava determinado que "todos os meios são
lícitos a fim de que Mossoró liberte os seus escravos".
A idéia empolgava a toda população, de modo que nenhum fez questão alguma de liberar seus escravos, independente de indenização.
O dia 30 de setembro de 1883 foi a data
designada para a liberação total dos escravos; e o objetivo foi
alcançado. No dia 29 de setembro, o Presidente da Libertadora
Mossoroense dirige a Câmara Municipal de Mossoró o seguinte Ofício:
"Ilustríssimos Senhores Presidente e Vereadores da Câmara Municipal.
A Sociedade Libertadora Mossoroense, por
seu Presidente abaixo assinado, tem a honra de participar a V. Sªs que,
amanhã, 30 de setembro, pela volta do meio-dia, terá lugar a
proclamação solene de Liberdade em Mossoró. E, pois, cumpre-me o grato
dever de convidar V. Sªs e seus respectivos colegas, representantes do
Município, para que se dignem de tomar parte nessa festa patriótica que
marcará o dia mais augusto da cidade e do município de Mossoró.
A emancipação mossoroense é obra exclusiva dos filhos do povo; a esmola oficial não entrou cá.
Sua Majestade, o Imperador, quando lhe
comunicamos a próxima libertação do nosso território, foi servido de
enviar a dizer-nos pelo Senhor Lafayette, Presidente do Conselho de
Ministros, que nos agradecia. A libertação está feita e ninguém apagará
da história a notícia do nosso nome. Os mossoroenses são dignos de ser
olhados com admiração e respeito hoje e daqui a muito tempo, por cima
dos séculos.
A Sociedade Libertadora mossoroense se congratula com V.Sªs por tão fautoso acontecimento.
Deus guarde a V.Sªs Ilustríssimo Senhor Romualdo Lopes Galvão, digno Presidente da Câmara Municipal desta cidade de Mossoró.
O Presidente Joaquim Bezerra da Costa Mendes.
Sala das Sessões da Sociedade Libertadora Mossoroense, 29 de setembro de mil oitocentos e oitenta e três".
Foi um dia festivo aquele 30 de setembro. A
cidade amanheceu com as ruas todas engalanadas de folhas de
carnaubeiras e bandeiras de papel coloridas. A alegria contagiava todos
os lares. Ao meio-dia, a Sociedade Libertadora Mossoroense se reunia
no 1º andar do prédio da Cadeia Pública, onde funcionava a Câmara
Municipal. O Presidente da Sociedade Joaquim Bezerra da Costa Mendes,
abre a solene e memorável sessão, lendo em seguida, diversas cartas de
alforria dos últimos escravos de Mossoró, e depois de emocionado
discurso declara "livre o município de Mossoró da mancha negra da
escravidão".
Além dos abolicionistas, os salões da Câmara Municipal estavam lotados com familiares e grande massa da população.
Depois da sessão, a festa tomou as ruas da
cidade. O Dr. Almino Afonso pronunciou inúmeros discursos, empolgando
os auditórios que o aplaudiam delirantemente. E foi também o Dr. Almino
Afonso que criou o "Clube dos Spartacos" composto, na sua maioria, por
ex-escravos, tendo sido eleito presidente o liberto Rafael Mossoroense
da Glória. A função desse clube era dar abrigo e amparo aos
ex-excravos, que aqui chegavam por mar ou por terra. Era a tropa de
choque dos abolicionistas. Como território livre, Mossoró passou a ser
procurada por todos os escravos que conseguiam fugir. Sabiam que aqui
chegando, encontravam abrigo. O Clube dos Spartacus sempre conseguia
evitar que os escravos voltassem com os donos. Alguns eram comprados;
outros eram mandados para Fortaleza e nunca mais apareciam. Tudo isso
aconteceu cinco anos antes que a Princesa Isabel assinasse a famosa
"Lei Áurea", que acabava com a escravidão em todo território nacional.
O dia 30 de setembro passou a ser a grande
data cívica da cidade. A Lei nº 30, de 13 de setembro de 1913, declara
feriado o dia 30 de setembro que até os dias atuais é comemorado com
muito entusiasmo pela cidade de Mossoró.
O Motim das Mulheres em 1875
Nada mais impopular era visto naquele momento em todo o país. A lei obrigava os jovens ao alistamento, colocando-os no caminho da guerra, quase sempre sem volta.
Àquele ano, o país se via envolvido em movimentos populares
contra o Império. Eram as lutas sociais ganhando sentimento nacional,
conhecidas como o Quebra Quilos. Delas vieram outros movimentos de
revolta popular como a própria reação contra o alistamento militar,
contra o novo sistema de pesos e medidas, o aumento dos impostos e a
questão religiosa.
Mossoró estava atenta a tudo isso. Mas, o que chamou a
atenção e distinguiu-se dos demais, foi mesmo o movimento das mães dos
jovens, conhecido como o Motim das Mulheres.
Naquele 4 de setembro de 1875, 300 mulheres foram às ruas
contra o alistamento dos seus filhos e maridos. No cartório militar,
rasgou as fichas de alistamento. Em desfile nas ruas, convocava a todos
para a justa causa. Na Praça da Redenção, armadas de sentimentos
nobres e justificáveis, enfrentaram a Polícia. Até mesmo atos de força,
e armadas com utensílios domésticos, foram usados contra os opressores
da manifestação.
Destemidas e determinadas, as mães de Mossoró triunfaram.
Seus filhos ficaram sob seus olhares e proteção, distantes da guerra
que sorvia vidas
O Primeiro Voto Feminino, de Celina Guimarães, em 1928
O Rio Grande do Norte marcou a luta mundial dos movimentos feministas, à época crescente em todos os lugares. O Estado era governado por Juvenal Lamartine e coube a ele o pioneirismo de autorizar o voto da mulher, em eleições, o que não era permitido no Brasil, mesmo a proibição não constando da Constituição Federal. Foi em 1928.
Celina Guimarães Viana, professora, juíza de futebol,
mulher atuante em Mossoró, foi a primeira eleitora inscrita no Brasil.
Após tirar seu título eleitoral, um grande movimento nacional levou
mulheres de diversas cidades do Rio Grande do Norte e outros nove
estados da Federação a fazerem a mesma coisa.
Celina Guimarães votando no prédio onde hoje funciona a Biblioteca Municipal
Com a mulher eleitora, vieram outras conquistas de espaço
na sociedade. Veio a primeira mulher a eleger-se deputada estadual no
Brasil e a luta pela emancipação feminina foi ganhando impulso em todo o
país, levando o voto feminino a ser regulamentado em 1934.
O episódio tem importância mundial, pois mais de uma
centena de países ainda não permitia à mulher o direito de voto. Na
própria Inglaterra civilizada o voto, apesar de permitido antes, só foi
regulamento após Mossoró inscrever sua primeira eleitoral.
A Resistência ao bando do mais famoso cangaceiro do Nordeste, o Lampião em 1927
Em 1927 a cidade de Mossoró vivia um
período de expansionismo comercial e industrial. Possuía o maior parque
salineiro do país, três firmas comprando, descaroçando e prensando
algodão, casas compradoras de peles e cera de carnaúba, contando com
um porto por onde exportava seus produtos e sendo, por assim dizer, um
verdadeiro empório comercial, que atendia não só a região oeste do
Estado, como também algumas cidades da Paraíba e até mesmo do Ceará. A população da cidade andava na casa dos 20.000 habitantes, era ligada ao litoral por estrada de ferro que se estendia ao povoado de São Sebastião, atual Dix-Sept Rosado, na direção oeste, seguindo por quarenta e dois quilômetros. Contava ainda com estradas de rodagem, energia elétrica alimentando várias indústrias, dois colégios religiosos, agências bancárias e repartições públicas. Era essa a Mossoró da época. A riqueza que circulava na cidade despertou a cobiça do mais famoso cangaceiro da época, que era Virgulino Ferreira, o Lampião. Para concretizar o audacioso plano de atacar uma cidade do nível de Mossoró, Lampião contava em seu bando com a ajuda de alguns bandidos que conheciam muito bem a região oeste do Estado, como era o caso de Cecílio Batista, mais conhecido como "Trovão", que havia morado em Assu onde já havia sido preso por malandragem e desordem e de José Cesário, o "Coqueiro", que havia trabalhado em Mossoró. Contava ainda com Júlio Porto, que havia trabalhado em Mossoró como motorista de Alfredo Fernandes, conhecido no bando pela alcunha de "Zé Pretinho" e de Massilon que era tropeiro e conhecedor de todos os caminhos que levavam a Mossoró. No dia 2 de maio de 1927 Lampião e seu bando partiram de Pernambuco, em direção ao Rio Grande do Norte. Atravessaram a Paraíba próximo à fronteira com o Ceará, com destino a cidade potiguar de Luiz Gomes. Antes, porém, atacaram a cidade paraibana de Belém do Rio do Peixe. Lampião não estava com o bando completo. O cangaceiro Massilon, que era um de seus chefes, estava com uma parte dos bandidos no Ceará e pretendia atacar a cidade de Apodi, já no Rio Grande do Norte, no dia 11 de junho daquele ano. Depois do assalto, deveria se juntar a Lampião em lugar pré-determinado, onde deveriam terminar os preparativos para o grande assalto. Essa reunião se deu na fazenda Ipueira, na cidade de Aurora, no Ceará, de onde partiram com destino a Mossoró. E ai começou a devastação por onde o bando passava. Assaltaram sítios, fazenda, lugarejos e cidades, roubando tudo o que encontravam, inclusive jóias e animais, queimando o que encontravam pela frente e fazendo refém de todos os que podiam pagar um resgate. Entre os seqüestrados estavam o coronel Antônio Gurgel, ex-Prefeito de Natal, Joaquim Moreira, proprietário da Fazenda "Nova", no sopé da serra de Luis Gomes, dona Maria José, proprietária da Fazenda "Arueira" e outros. Coube ao coronél Antônio Gurgel, um dos seqüestrados, escrever uma carta ao prefeito de Mossoró, Rodolfo Fernandes, fazendo algumas exigências para que a cidade não fosse invadida. Era a técnica usada pelos cangaceiros ao atacar qualquer cidade. Antes, porém, cortavam os serviços telegráficos da cidade, para evitar qualquer tipo de comunicação. Quando a cidade atendia o pedido, exigiam além de dinheiro e jóias, boa estadia durante o tempo que quisessem, incluindo músicos para as festas e bebidas para as farras. Quando o pedido não era aceito, a cidade era impiedosamente invadida. De Mossoró pretendiam cobrar 500 contos de réis para poupar a cidade, mas sendo advertido que se tratava de quantia muito alta, resolveram reduzir o pedido para 400 contos de réis. A carta do coronél Gurgel dizia: "Meu caro Rodolfo Fernandes. Desde ontem estou aprisionado do grupo de Lampião, o qual está aquartelado aqui bem perto da cidade. Manda, porém, um acordo para não atacar mediante a soma de 400 contos de réis. Penso que para evitar o pânico, o sacrifício compensa, tanto que ele promete não voltar mais a Mossoró..." Ao receber a carta, o Cel. Rodolfo Fernandes convoca uma reunião para a qual convida todas as pessoas de destaque da cidade, onde informa o conteúdo da mesma e alerta para a necessidade da preparação de defesa contra um possível ataque dos cangaceiros. Os convidados, no entanto, acham inviável que possa acontecer um ataque de cangaceiros a uma cidade do porte de Mossoró. E de nada adiantaram os argumentos do prefeito.
Mossoró, 13 de junho de 1927. - Antônio Gurgel. " Não é possível satisfazer-lhe a remessa dos 400.000 contos, pois não tenho, e mesmo no comércio é impossível encontrar tal quantia. Ignora-se onde está refugiado o gerente do Banco, Sr. Jaime Guedes. Estamos dispostos a recebê-los na altura em que eles desejarem. Nossa situação oferece absoluta confiança e inteira segurança. Rodolfo Fernandes". Quando o portador chega a casa do prefeito para pegar a resposta, esse, de modo cortês, diz que a proposta do bandido é inaceitável e se diz disposto a enfrenta-lo. Levou o portador ao aposento onde havia vários caixões com latas de querosene e gasolina. Junto a esses caixões, existia um aberto e cheio de balas. O prefeito na tentativa de impressioná-lo, diz que todos aqueles caixões estão cheios de munição e que já existe um grande número de homens armados na cidade, aguardando a entrada dos cangaceiros. Lampião não esperava tal resposta e ao tomar conhecimento que a cidade está pronta para brigar, resolve mandar um bilhete escrito de próprio punho, numa péssima caligrafia, julgando que assim conseguiria o intento | |||
" Cel Rodolfo
Estando Eu até aqui pretendo
drº. Já foi um aviso, ahi pº o Sinhoris, si por acauso rezolver, mi, a
mandar será a importança que aqui nos pede, Eu envito di Entrada ahi
porem não vindo essa importança eu entrarei, ate ahi penço que adeus
querer, eu entro; e vai aver muito estrago por isto si vir o drº. Eu
não entro, ahi mas nos resposte logo.
Capm Lampião."
|
|||
Mais uma vez, o prefeito responde com negativa. Diz em sua resposta para Lampião: "Virgulino, lampião. A resposta:
Recebi o seu bilhete e respondo-lhe dizendo que não tenho a importância
que pede e nem também o comércio. O Banco está fechado, tendo os funcionários se retirado daqui. Estamos dispostos a acarretar com tudo o que o Sr. queira fazer contra nós. A cidade acha-se, firmemente, inabalável na sua defesa, confiando na mesma. Prefeito, 13.06.1927".
Nessa altura dos acontecimentos,
os mossoroenses já convencidos do intento dos cangaceiros, tratavam de
preparar a defesa da cidade. O tenente Laurentino era o encarregado dos
preparativos. E como tal, distribuía os voluntários pelos pontos
estratégicos da cidade. Haviam homens instalados nas torres das igrejas
matriz, Coração de Jesus e São Vicente, no mercado, nos correios e
telégrafos, companhia de luz, Grande Hotel, estação ferroviária,
ginásio Diocesano, na casa do prefeito e demais pontos.
O plano de lampião era chegar a
uma localidade conhecida como Saco, que ficava a uma distância de dois
quilômetros de Mossoró, onde abandonariam as montarias e prosseguiriam a
pé até a cidade. O cangaceiro Sabino comandava duas colunas de
vanguarda. Uma das colunas era chefiada por Jararaca e outra por
Massilon. Lampião ia no comando da coluna da retaguarda.
Enquanto cangaceiros e voluntários
se preparam para o combate, o restante da população, que não
participariam do mesmo, tentava deixar a cidade. Eram velhos, mulheres
e crianças, pessoas doentes, que não tinham nenhuma condição de
enfrentar, de armas em punho, a ira dos Cangaceiros.
A cena era dantesca desde o dia 12
de junho. Nas ruas, o povo tentava deixar a cidade de qualquer
maneira. Mulheres chorando, carregando crianças de colo ou puxadas
pelos braços, levando trouxas de roupas, comida e água para a viagem,
vagando na multidão sem rumo. Era uma massa humana surpreendente que se
deslocava pelas ruas da cidade na busca de transporte, qualquer que
fosse o meio, para fugir antes da investida dos Cangaceiros. Famílias
inteiras reunidas, em desespero, lotavam os raros caminhões ou
automóveis que saíam disparados a caminho do litoral. Muitos, sem
condição de transporte, tratavam de conseguir esconderijo dentro ou
fora da cidade. A ordem dada pelo prefeito era que quem estivesse
desarmado saísse da cidade.
O desespero aumentava mais a
medida que o dia avançava. Às onze horas da noite, os sinos das igrejas
de Santa Luzia, são Vicente e do Coração de Jesus começaram a martelar
tetricamente, o que só servia para aumentar a correria. As sirenes das
fábricas apitavam repetidamente a cada instante. Muita gente que não
acreditava na vinda de Lampião, só ai passou a tomar providências para a
partida.
Na praça da estação da estrada de
ferro, era grande a concentração de gente na busca de lugar para viajar
nos trens que partiam de Mossoró. Até os carros de cargas foram
atrelados a composição para que a multidão pudesse partir. Mesmo assim
não dava vencimento, e os retardatários, em lágrimas, imploravam um
lugar para viajar.
O Prefeito, o Cel. Rodolfo
Fernandes de Oliveira, se desdobrava na organização da defesa, ao mesmo
tempo que ordenava a evacuação da cidade, medida essa que poderia
salvar muitas vidas.
Enquanto isso, a locomotiva a
vapor, quase milagrosamente partia, resfolegando com o peso adicional,
parecendo que ia explodir, tamanho o esforço feito pela máquina que
emitia fortes rangidos e deixava um rastro de fumaça negra no
horizonte. Era uma viagem relativamente curta, entre Mossoró e Porto
Franco, nas proximidades da praia de Areia Branca.
Na cidade, o badalar dos sinos
continuava e o desespero também, pois apesar da pequena distância que o
trem deveria percorrer, a locomotiva demorava mais do que o normal
para chegar, com o maquinista parando com freqüência para se abastecer
de água e lenha pelo caminho. Saía de Mossoró com todos os carros
lotados e voltava vazio. Era um verdadeiro êxodo.
Ao entrarem na cidade, o bando
sente medo, devido ao abandono do local. Sabino encaminha-se com suas
colunas para a casa do prefeito. Não perdoa o atrevimento daquele homem
que resolveu enfrentar o bando de cangaceiro mais temido do nordeste
brasileiro. Sabino posiciona-se sozinho em frente a casa de Rodolfo
Fernandes. Os defensores da cidade ficam indecisos, sem saber se ele é
um soldado ou um cangaceiro, já que não havia muito diferença entre a
maneira de se vestir de um e de outro. Foi preciso a ordem do prefeito
para que começassem a atirar.
Nesse momento o tempo fechou. Uma
forte chuva começa a cair, comprometendo o desempenho dos cangaceiros e
tornando mais tétrico o ambiente. Lampião segue em direção ao
cemitério da cidade enquanto que Massilon procura os fundos da casa do
prefeito.
O cangaceiro "Colchete" tenta
revidar os tiros lançando uma garrafa com gasolina contra os fardos de
algodão que servem de trincheiras para os defensores, na tentativa de
incendiá-los. Nesse momento é atingido por um tiro, caindo morto.
Jararaca se aproxima do corpo, com o intuito de dar prosseguimento ao
plano do comparsa morto e é também atingido nas costas, tendo os
pulmões perfurados.
No mesmo instante, os soldados
entrincheirados na boca do esgoto começam a atirar, encurralando os
cangaceiros. Os defensores dominam a situação e não resta outra solução
aos facínoras se não abandonar a cidade. A ordem de retirada é dada
por Sabino que puxando da pistola dá quatro tiros para o alto. É o fim
do ataque.
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Não foi um combate
longo; iniciou-se as quatro horas da tarde, aproximadamente, sendo os
últimos disparos dados por volta das cinco e meia da mesma tarde.
Lampião havia fugido, deixando estirado no chão o Cangaceiro Colchete e
dando por desaparecido o Jararaca, que depois seria preso e
"justiçado" em Mossoró. Mas com medo da revanche dos bandidos, os
defensores permaneceram de plantão toda a noite, só descansando no
outro dia, quando tiveram certeza que já não havia mais perigo.
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Quando lembramos esses fatos, ficamos pensando que tragédia poderia ter acontecido se a cidade não houvesse sido esvaziada a tempo. Quantas mortes poderiam ter havido se a população tivesse permanecido na mesma. Só Deus pode saber.
Depois do acontecido, a
população começa a voltar para casa. É outra batalha para se conseguir
transporte, juntar os parentes, desentocar os objetos de valores que
tinham ficado escondidos e tantas providências mais, que só quem viveu o
drama poderia contar.
13 de junho, dia de Santo Antônio. Um dia que ficou marcado para sempre na história de Mossoró.
Fonte: Wikipedia e Prefeitura de Mossoró
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