A necessidade de escapar do pensamento convencional para se obter
soluções inovadoras, foi clara e objetivamente ressaltada por Einstein:
“Os problemas não podem ser resolvidos no mesmo nível de pensamento que
os criou.”
Mas como escapar da caixa? Como levar nosso raciocínio para outro
nível de pensamento? A resposta está nas perguntas que fazemos, no modo
como formulamos nossos desafios. Para escapar da caixa precisamos de
perguntas vigorosas que somente podem ser respondidas fora dos
paradigmas dominantes, muito além das restrições impostas pela maneira
atual de pensar. Perguntas cujas respostas explorem novos caminhos e
possibilidades, e não que justifiquem as suposições e limitações da
situação vigente. Perguntas tímidas fornecem respostas dentro da caixa,
perguntas vigorosas libertam nossa imaginação.
Por que não fazemos boas perguntas?
Se fazer boas perguntas é essencial, porque não dedicamos mais tempo e
energia na criação de perguntas criativas e desafiadoras? As principais
razões estão na nossa educação e nas práticas gerenciais de muitas
organizações.
A cultura que orienta nossa educação focaliza mais o aprender a
“resposta certa”, através da memorização de respostas prontas, ao invés
de valorizar a arte de formular a “pergunta certa”. Testes, exames e
concursos reforçam o valor de ter a resposta certa. Professores
dogmáticos se preocupam mais em disseminar suas convicções do que
desenvolver as habilidades de raciocinar e questionar em seus alunos.
Alguém já disse: “Não é a resposta que nos ensina, mas a pergunta.”
As práticas gerenciais nas organizações não mostram muita tolerância
para as mentes criativas e questionadoras. Essas práticas valorizam mais
aqueles que agem rápido e dentro das regras estabelecidas, mesmo que as
causas dos problemas permaneçam intocadas e as “soluções” tenham
efeitos transitórios. O ritmo rápido dos negócios reduz o tempo
disponível para explorar novas possibilidades e oportunidades de
inovação. O futuro acaba sacrificado pela correria do dia a dia, as
urgências não deixam espaço para as coisas importantes e as perguntas
inovadoras não são formuladas.
O que faz uma pergunta vigorosa e desafiadora?
As boas perguntas são aquelas que nos dirigem para fora da caixa e
nos levam a explorar novos caminhos, a dar asas a nossa imaginação e
procurar respostas não convencionais. Uma pergunta vigorosa:
- Desperta a curiosidade.
- Estimula a reflexão e a criatividade.
- Revela e desafia as suposições e crenças da situação vigente.
- Abre novas perspectivas e possibilidades.
- Gera energia e movimento.
- Canaliza a atenção e promove a investigação.
- Promove novas abordagens e a cooperação entre pessoas e equipes.
- Dá origem a mais perguntas.
A arquitetura das perguntas vigorosas
As perguntas vigorosas podem aumentar drasticamente a qualidade da
reflexão, inovação e ação em nossas organizações, no nosso trabalho e em
nossas vidas. Elas têm o poder de se espalharem por toda a organização e
de provocar mudanças profundas e em larga escala.
Assim sendo, o conhecimento da estrutura básica de formulação de uma
pergunta vigorosa é uma habilidade essencial para se explorar todo o seu
potencial. De acordo com os estudos de Eric E. Vogt e sua equipe, as
perguntas vigorosas têm três dimensões: construção, escopo e suposições.
Cada dimensão contribui para a qualidade das ideias, do aprendizado e
do conhecimento que surgem da pergunta vigorosa e desafiadora.
Dimensão 1: A construção da pergunta
O modo como a pergunta é construída pode fazer uma diferença enorme
na abertura ou fechamento de nossas mentes na consideração de novas
possibilidades. Uma pergunta pode ser fechada, levando a somente duas
opções, sim ou não, ou pode ser aberta, abrindo uma ampla janela para
uma grande variedade de respostas.
A figura a seguir mostra as formas mais usuais de palavras interrogativas que podemos utilizar na construção de uma pergunta.
As perguntas menos vigorosas estão na base da pirâmide e se tornam mais vigorosas à medida que caminhamos para o topo.
Pra ilustrar, considere a seguinte sequência de perguntas:
- Você está satisfeito com nossos serviços?
- Quando você teve a maior satisfação com nossos serviços?
- O que em nossos serviços você considera mais satisfatório?
- Por que será que nossos serviços têm seus altos e baixos?
- Como podemos melhorar nossos serviços aos clientes?
À medida que nos movemos da pergunta sim/não para perguntas cada vez
mais abertas e vigorosas, as questões tendem a estimular pensamentos
mais reflexivos e instigantes. As questões baseadas nas perguntas mais
vigorosas provocam pensamentos mais criativos e profundos.
Uma nota de precaução: o uso do interrogativo por que deve
ser feito com cuidado para evitar posições defensivas por parte dos
respondentes. A pergunta deve ser estruturada de forma a gerar
curiosidade e o desejo de esclarecer as causas do problema analisado, ou
de explorar possibilidades ainda não pensadas. Uma variação útil é o por que não?
Dimensão 2: O escopo da pergunta
Além dos cuidados na escolha das palavras para construir a pergunta, é
também muito importante a adequação do escopo da questão às nossas
necessidades. Considere as três perguntas a seguir:
- Como podemos melhorar a qualidade do produto X?
- Como podemos melhorar a qualidade de nosso departamento?
- Como podemos melhorar a qualidade de nossa empresa?
Neste exemplo, as perguntas ampliam progressivamente o escopo do
desafio, considerando sistemas cada vez mais abrangentes. Para tornar
suas perguntas vigorosas e objetivas, defina o escopo do modo mais
preciso possível para mantê-lo dentro de limites realistas e conforme as
necessidades da situação em que esteja trabalhando. Não vá além e nem
fique aquém do necessário.
Dimensão 3: As suposições embutidas na pergunta
Quase todas as perguntas que fazemos trazem embutidas, de forma
explicita ou implícita, suposições que podem ou não ser compartilhadas
pelo grupo envolvido na exploração de novas ideias. Por exemplo, a
pergunta “Como reduzir os preços de nossos produtos para torná-los mais
competitivos?” assume que preços altos são a causa da falta de
competitividade. Esta suposição pode não ser compartilhada por todas as
pessoas do grupo de estudo, criando decepções, desmotivação e outras
atitudes negativas. Como formulada, a pergunta restringe a exploração de
ideias, deixando de fora outras ideias que podem ser exploradas
relacionadas à qualidade, produtividade, ações de marketing, canais de
distribuição, serviços, etc.
Para formular perguntas vigorosas, é importante estar ciente das
suposições e usá-las adequadamente. É sempre aconselhável examinar a
pergunta e identificar as suposições e crenças embutidas e como elas
podem ajudar ou dificultar a exploração de novos caminhos de pensamento.
As boas perguntas:
- Ampliam as perspectivas e estimulam a cooperação entre os envolvidos.
- Não incluem soluções e nem direcionam ou limitam a exploração de alternativas.
- Não incluem suposições ou suspeitas de erros e culpas e evitam atitudes defensivas.
Esclarecendo ou alterando as suposições, podemos mudar o contexto da
pergunta e criar novas oportunidades de inovação. Compare as duas
perguntas seguintes:
- Como podemos nos tornar o melhor departamento da empresa?
- Como podemos nos tornar o melhor departamento para a empresa?
Uma pequena mudança altera totalmente as regras do debate. A primeira
pergunta isola o debate dentro dos limites do departamento. A segunda
pergunta permite ampliar o debate e trazer contribuições de todos os
outros departamentos da empresa e de pessoas de fora.
Pelo entendimento e consideração consciente das três dimensões das
perguntas vigorosas, podemos aumentar o poder desafiador de nossas
perguntas e, como resultado, melhorar e aumentar nossa habilidade de
gerar ideias criativas e inovadoras. Boas perguntas nos ajudam a romper
os bloqueios mentais, incentivam a criatividade, promovem a cooperação,
nos levam a múltiplas respostas e criam variadas alternativas. Perguntas
fracas e tímidas nos mantêm prisioneiros das formas tradicionais de
pensar e fornecem respostas convencionais e óbvias.
Fonte: I9 & criatividadeaplicada.com
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