Trocar de email não é um processo simples e isso explica, em parte,
por que é que tantas pessoas ainda usam o histórico Hotmail. A Microsoft
anunciou que vai, até ao Verão, passar este serviço à reforma e os utilizadores terão de mudar para o novo Outlook.com.
Para quem usa o Gmail há cerca de oito anos, mergulhar no Outlook.com
(ou qualquer outro serviço) não é confortável. As comparações são
constantes. É como trocar de namorada. Mas a verdade é que (tanto no
caso dos emails como nas namoradas) não vale a pena perder muito tempo
em comparações. A estratégia da Microsoft, pelo menos por ora, deve ser
mais a de reter os milhões de utilizadores do Hotmail e menos a de
aliciar quem esteja a usar produtos concorrentes.
O Outlook.com é
uma boa solução para os que querem uma interface e funcionalidades
modernas, sem terem de avisar toda a gente que mudaram de email: não é
obrigatório mudar o endereço para @outlook.com, podendo ser mantido o
antigo Hotmail (e também é possível usar o serviço como caixa de correio
para outros serviços, incluindo o Gmail). Para além disto, é possível
manter as mensagens antigas do Hotmail, pastas, mensagens automáticas e
demais configurações.
O aspecto é minimalista e elegante, com um
estilo que coincide com o dos produtos que a Microsoft tem posto no
mercado, incluindo os sistemas operativos Windows 8 e Windows Phone. Há
lugar para alguma personalização, com o utilizador a poder escolher uma
entre 18 cores (do cor-de-rosa ao preto) para acompanhar as tonalidades
cinzentas.
Quem usar o homónimo Outlook – o programa da Microsoft
para email, que é vendido como parte do Office – já estará habituado à
possibilidade ter o ecrã dividido em duas áreas principais: uma que
lista as mensagens e outra (que pode estar à direita ou em baixo) e que
permite a leitura dos emails (o espaço que cada área ocupa pode ser
modificado clicando e arrastando a barra que as separa).
No lado
esquerdo, o Outlook.com tem uma coluna com uma caixa de pesquisa (é
possível fazer pesquisas simples e avançadas, e funcionam bem) e uma
tradicional lista de pastas ("A receber", "Lixo", "Rascunhos", etc). O
utilizador pode criar novas pastas para além das que já estão definidas.
Em
baixo disto, ainda na coluna da esquerda, surge aquilo a que a
Microsoft chama Vistas rápidas. São essencialmente filtros que permitem
mostrar mensagens etiquetadas com uma determinada categoria.
"Importante", "Fotografias" e "Contas" (no sentido de contas de águas,
luz e afins) são algumas das que já vêm definidas. O utilizador pode
criar as categorias que quiser e decidir se as coloca ou não no painel
de "Vistas rápidas".
Uma mensagem só pode estar numa pasta, mas
pode estar associada a múltiplas categorias. Há algum excesso ao
disponibilizar simultaneamente pastas e categorias e é preciso ter um
grande impulso organizativo para apreciar esta dupla forma de
organização. Para os menos organizados mas com boa memória, há uma
funcionalidade útil para encontrar emails desarrumados: um calendário,
que surge ao clicar num discreto "Ir para" (no fundo das listas de
mensagens, junto das setas para mudar de página) e que permite
seleccionar um dia e ver apenas os emails dessa data.
Do lado
direito, o Outlook.com tem uma coluna que pode mostrar as actualizações
em redes sociais da pessoa cujo email esteja a ser lido. Também permite
usar directamente os sistemas de conversação destas redes (como o chat do Facebook).
A
Microsoft já se gabou desta funcionalidade, frisando que o Gmail mostra
anúncios publicitários a acompanhar os emails (o Outlook.com também tem
publicidade, mas a Microsoft tem-se esforçado muito para passar a
mensagem de que não invade a privacidade dos utilizadores para
seleccionar anuncios). É certo que esta opção é melhor do que anúncios,
mas, na generalidade das situações, não encontrei grande utilidade e
acabei por desactivá-la (é precisamente nesta coluna que a Microsoft
mostra publicidade; pelo menos, de acordo com imagens que publicadas na
Internet, já que não cheguei a ver qualquer anúncio durante a utilização
– a Microsoft vende uma versão do serviço sem publicidade).
Sobretudo
quando se tem a caixa de correio configurada para mostrar os dois
painéis (o de listagem e o de leitura) lado a lado, esta quarta coluna
ocupa espaço precioso e, seja como for, está frequentemente vazia. Por
um lado, porque nem todas as pessoas com quem troco emails são "amigos"
do Facebook (se essa pessoa tiver actualizações públicas no Facebook,
estas serão mostradas, independentemente de sermos "amigos"); por outro,
porque os emails que empresas e instituições usam para me contactar não
estão associados a qualquer conta em redes sociais. Sobra, assim, uma
longa barra cinzenta sem nada lá dentro (por outro lado, um bom exemplo
de integração com redes sociais é a facilidade com que são importados os
contactos do Twitter, Facebook e LinkedIn, tal como também é possível
fazer com os do Google).
Um dos testes onde o novo serviço da
Microsoft passa com distinção é no do uso das teclas. É possível
percorrer a lista de mensagens com as teclas direccionais e a combinação
destas com a tecla Shift permite seleccionar várias mensagens em
simultâneo, exactamente da mesma forma que acontece com aplicações de
computador. Também há teclas de atalho para muitas funcionalidades: N
para uma nova mensagem, R para responder e a tecla Delete para apagar,
entre outras.
Em geral, a Microsoft fez um bom trabalho no
capítulo de poupar passos (e tempo) aos utilizadores. Ao passar o cursor
sobre uma mensagem surgem três ícones: um para a apagar, outro para a
marcar como lida ou não lida (consoante o estado em que esteja) e um
terceiro (uma pequena bandeira) para a assinalar como relevante e a
manter afixada no topo da lista de mensagens. É útil para garantir que
um email importante não é soterrado (e, consequentemente, esquecido)
debaixo da pilha de emails que se lhe seguiram.
Já o ecrã para
escrita de emails é um exemplo de minimalismo. Do lado esquerdo, uma
caixa para indicar quem são os destinatários, com uma lista a mostrar
logo os mais frequentes. Do lado direito, uma grande área branca, sem
linhas a limitá-la e a dar-lhe um aspecto de caixa, para escrever o
texto (um pequeno solavanco na experiência de escrita aconteceu quando
percebi que os rascunhos não são guardados automaticamente, sendo
preciso clicar em "Guardar rascunho").
Ao anexar ficheiros, uma
agradável surpresa: é mostrada uma miniatura das imagens anexadas, com
dimensão mais do que suficiente para se perceber bem do que se trata
(ajuda a garantir que não seleccionamos a fotografia errada e enviamos
uma foto de férias num email profissional). Ao enviar o email, outra
surpresa: a mensagem "afasta-se", como se estivesse de facto a ser
enviada para algum lado – este género de animações são um dos pontos bem
conseguidos na interface do Outlook.com.
Os muitos atributos
positivos do Outlook.com não farão quem está contente com o seu actual
serviço de email correr para os braços da Microsoft. Mas são argumentos
suficientes para quem queira, pelo menos, tentar por uns dias algo
diferente. Já aqueles que queiram permanecer fiéis ao endereço
@hotmail.com vão finalmente poder dar o email em voz bem alta, sem
recear um olhar trocista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Deixe o seu comentário.