A nova aventura do Homem de Ferro estreou semana passada nos cinemas
brasileiros e, no meio de tanta tecnologia legal, surgem aqueles
gráficos que o Tony Stark enxerga de dentro da armadura. São informações
que ajudam o herói a identificar, calcular, medir e decidir suas ações.
O que ele está usando é um HUD, ou Head-Up Display. E você também vai
poder ter algo assim, em breve. Um HUD pra vida.
Primeiro, aplicação militar
Os HUD surgiram como inovação militar, ainda antes da Segunda Guerra
Mundial. E ficaram restritos a aplicações militares por décadas. Quem
ajudou a popularizar esse conceito? A cultura pop, claro.
Começaram a surgir em filmes de guerra, mas principalmente ficção
científica. Você já os viu em Top Gun, Exterminador do Futuro e Robocop,
clássicos doa anos 80. Os vilões e os heróis usam. E para quê? Bom, os
HUDs são úteis para oferecer informações sem que a pessoa precise
desviar os olhos para, digamos, um telefone celular.
Não foi por acaso que os pilotos de aviões militares usaram primeiro
e, como era realmente uma ajuda enorme, os pilotos civis passaram a
contar com HUDs também. E se era bom pros pilotos de avião, era também
para os motoristas de carros, com informações de navegação projetadas no
pára-brisa. Mas claro que surgiu primeiro em BMWs, Mercedes e outros
veículos de luxo.
Nos filmes, os HUDs têm funcionado como uma espécie de bossa visual.
Mostra-se o que os personagens estão vendo com todo aquele aparato de
informações que os ajuda a tomar decisões, mirar melhor, receber
mensagens.
Só que as aplicações mais espetaculares têm vindo dos video-games.
Foi que lá eles juntaram os jogos com ponto de vista em primeira pessoa
(os first-person shooters) aos HUDs e foram meio que pesquisando as
possibilidades de uso desses equipamentos no mundo real. Porque, afinal,
os mundos virtuais dos vídeo-games estão cheios de oportunidades para
isso: testar coisas que podem, depois, ser usadas no mundo real.
Falamos, algumas semanas atrás, do livro Interface Culture, de Steven
Johnson. Como as interfaces servem para influenciar a evolução do nosso
raciocínio e nossos costumes. As interfaces dos jogos estão, de novo,
treinando uma geração que talvez absorva os HUDs facilmente.
Os óculos do Google
Foi por isso que, desde que foi anunciado, o Google Glass capturou a
imaginação de tanta gente. Um óculos que, conectado em seu telefone
celular, é capaz de virar um HUD para o mundo real. É como se,
finalmente, os video-games transbordassem pra vida real. Ou pelo menos
uma parte bem bacana deles.
Durante anos, falou-se em realidade aumentada. Primeiro, com
computadores pessoais, era uma curiosidade. Depois, com os telefones
celulares, virou uma aplicação divertida para usar com a câmera
obrigatória dos smartphones. Mas no momento em que você coloca na vida
das pessoas um óculos capaz de projetar imagens e sobrepô-las ao mundo
real. Ah. Um universo de possibilidades se abre.
Mais importante é pensar que o Google está lançando esse produto após
uma década em que virtualmente mapeou o mundo todo e criou uma suíte de
produtos e serviços que podem perfeitamente se associar a esse
mapeamento. Assim, usando um óculos associado ao pacote de serviços
correto, seria possível usar mapas, e-commerce e tradução simultânea num
tour pelo centro de Hong Kong. Ou mapas associados ao hangout e a um
jogo para participar de uma caça ao tesouro em um novo patamar.
Todo produto disruptivo cria dúvidas e discussões interessantes e o
Glass não é diferente. No momento, um grupo de Exploradores topou pagar
US$ 1500 para ter acesso ao produto em primeira mão. Eles estão
recebendo as unidades e saindo por aí com elas, recebendo as apps de
teste e contando pro mundo se o negócio é mesmo tão legal assim. Entre
os usuários, os relatos têm sido positivos. Robert Scoble, um influente
blogueiro e evangelista do mundo digital, diz que não consegue imaginar
um futuro sem Google Glass. Eric Schmidt, ex-CEO e atual Chairman do
Google, afirmou que ter que falar com os óculos era algo estranho. O
escritor de ficção científica William Gibson, autor de obras seminais
como Neuromancer, ficou apaixonado pelo aparelho.
Há diversos colunistas de tecnologia dizendo que não vai pegar. Um
deles, Mike Butcher, o editor do site Techcrunch na Europa, diz que o
Glass é o novo Segway. Ele se refere àquele patinete motorizado e cheio
de giroscópios que era para ser o sistema de transporte do futuro, mas
acabou sendo o brinquedo preferido dos seguranças de shopping. Nenhum
dos detratores, até aqui, é um dos que efetivamente está usando o
aparelho. Mas essa controvérsia é um indicativo do potencial dessa
novidade.
Há um intensa discussão sobre o uso do Glass em bares, lojas e, hum,
banheiros. Na hora em que você estiver tendo uma conversa íntima com
aquela amiga, todo mundo tira os óculos? A interface baseada na fala, da
qual o Eric Schmidt reclamou, ajuda a minimizar alguns dilemas, já que
você precisa falar alto para ativar um comando. Mas está longe de
resolver. Há jailbreaks e macetes sociais que resolveriam isso
facilmente e não é difícil imaginar que em breve vamos ver vídeos em
primeira pessoa humilhando alguém no Youtube. O curta-metragem Sight, do
ano passado, endereça medos até maiores dos que esses.
Os óculos do Google supostamente chegam ao mercado norte-americano a
tempo das vendas de fim-de-ano. Sim, deste ano. O aparelho deve custar
muito menos do que os US$ 1500 pagos pelos Explorers na fase de testes,
embora a empresa não tenha revelado o preço. Arrisco que seja algo
abaixo dos US$ 500.
Ainda será caro e ainda chamará muita atenção, gerando um efeito
parecido com o dos comunicadores bluetooth brilhando nos ouvidos das
pessoas. Vai dizer que você nunca torceu o nariz quando viu alguma
pessoa andando e falando sozinha por aí? Mas ele apenas ficará mais
invisível, chamará menos atenção e tende a virar uma lente de contato
movida a nanotecnologia, ou um implante. Em algum ponto, estaremos
acostumados com coisas assim.
Outras empresas podem e devem entrar nessa disputa. Mas nenhum deles
tem a combinação impressionante de produtos e serviços do Google, o que
vai ser uma dificuldade extra. O mercado vai ficar agitado, com diversas
opções e preços.
Enfim, o que você acha? Será que o Glass será o iPad do Google? Um
produto que será imitado de forma errada por diversas empresas? Ninguém
vai curtir essa novidade e vamos mesmo ter um novo Segway? Mas mais
importante, você, usaria um HUD para facilitar a sua vida? Ou acha que é
estranho demais? Comente.
FONTE: Revista Galileu
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